- (chegando) Opa, perdi alguma coisa?
Em épocas como as que estamos vivendo, eu agradeço por meu filho ser ainda pequeno o bastante pra que eu possa protegê-lo de determinadas coisas que andam acontecendo. Se ele tivesse uns 5 anos a mais, eu seria obrigado a responder perguntas às quais eu não faço idéia da resposta.
É bem dificil tentar explicar o que é essa calhordice que tomou conta de nós. O que nos espanta? O que é grave? O que causa indignação?
O que é preciso acontecer para que as pessoas acordem?
Sendo bem prático. Vamos pegar última crise no senado como exemplo. Todo mundo tem certeza que o bigodudo mentiu, achacou, ameaçou, cercou-se de todos os piores elementos pra defendê-lo, e o que fez o Presidente da Republica? Juntou-se a eles. E o que aconteceu?
Rigorosamente nada.
Se meu filho me perguntasse:"Pai, roubar é errado?", o que eu deveria responder?
A candidata a presidir o país no próximo mandato, mente deslavadamente, é mal educada, tem uma ficha pra lá de estranha. E é a única escolha do partido.
"Pai, mentir é errado?"
O Governo e vários juízes do STF estão fazendo das tripas coração pra livrar da cadeia um assassino confesso. Dobram e desdobram a lei para tentar fazer um origami que nos faça sentir que o cara é um matador bacana, um assassino com classe.
"E aí Pai, matar é errado?"
Me digam, o que eu respondo, se ele me perguntar? Que depende? Que alguns podem? Que é melhor não pensar nisso, ficar de lado? Qual a resposta mais adequada, me ajudem?
E como não compreender a confusão pela qual passa um jovem hoje em dia. Vale a pena ser honesto? Melhor gastar dinheiro em livro, ou ficando bem gostosa (ou fortão), o que te abre mais portas hoje em dia?
Por enquanto, ainda consigo preservar a inocência do meu filho. Não se trata de aliená-lo. É um tempo que eu ainda tenho pra ver se os valores que eu passo grudem na mente dele, antes que o mundo venha, e estrague tudo. Uma esperança para quem sabe, quando ele me fizer essas perguntas acima, eu possa dar as respostas que eu sei que estão certas, sem parecer que estou mentindo pra ele.
I don't need no one to tell me about heavenHeaven- Ed Kowalczyk
I look at my daughter, and I believe.
I don't need no proof when it comes to God and truth
I can see the sunset and I perceive
Se é pra me rotularem, melhor dar o nome mais correto: sou cético. Não ateu.
Ateu não acredita, e ponto. Eu acredito. Mas duvido. Parece inconsistente? Não é.
A dúvida tem uma imagem muito negativa em nossa sociedade. Queremos pessoas que acreditem. Que creiam, cegamente. Que encontrem. Eu podia fingir, mas não sou assim.
É preciso interpretar direito. Minha posição não é o: "Duvido!", ríspido e intolerante, que desafia todos a provarem seus argumentos. Isso é soberba, não dúvida. Na minha visão, a dúvida é uma prova de humildade. É reconhecer que sou pequeno e falho, e não tenho a pretensão de achar que sei quem é Deus. Não entendo. Busco.
Você já encontrou seu Deus? Ótimo. Se sua crença preenche o que falta em sua vida, acho mesmo que vc deve louvá-lo, acalentá-lo, como parte de você. Mas por favor, não tente vender suas crenças para mim. Você se sente bem, porque chegou, porque encontrou. Mas eu valorizo o caminho. Eu estou andando, e não tenho muito interesse na linha de chegada. A viagem tem sido boa. Respeite minha jornada.
Eu andei por algumas religiões. Ouvi gente mais sábia e menos sábia. Acolhi coisas de cada uma delas. Já tive minha fé posta a prova algumas vezes na minha vida. Mas sempre me recusei a ser "mais ou menos católico" ou "quase espírita". Se não for pra abraçar uma religião de corpo e alma, prefiro nem começar. E acho que essa religião completa não existe, então prefiro continuar meu caminho.
Eu vou dar ouvidos a quem quer que seja nessa estrada. Vou levar em conta cada palavra que chegar a mim. Mas por favor, não me teste me convencer que você está num grau mais elevado que eu em seu crescimento espiritual, porque você simplesmente não sabe disso. Ninguém sabe.
Eu não preciso de igreja pra fazer minhas orações. O mundo inteiro é um templo. Não preciso de uma representação visual de um Deus. Não preciso dar um nome a ele. Ele existe, pra mim basta.
Quando meus dias por aqui acabarem, talvez me encontre com Ele, e Ele me pergunte:"Você demorou esse tempo todo pra me encontrar?". E eu vou poder responder, com toda felicidade: 'Ah Senhor, mas como eu procurei..."
Sarney não conhecia Rodrigo (o Cruz, não eu). Não é dono do Maranhão. Não indicou parentes. Não sabia o que era ato secreto. A empreiteira não lhe comprou um apartamento. Não tem influência na fundação que leva seu nome. Pallocci não quebrou o sigilo do caseiro. Não esteve naquela casa. O funcionários da receita saíram normalmente, sem fato relevante. É normal o sistema de segurança do Planalto não lembrar de nada. Mercadante ficou porque Lula lhe escreveu uma carta linda, tocante. Não houve acordão. Dilma não viu Lina. Nunca tinha prestado atenção em seu próprio curriculo. O dono do castelo não fez nada de errado. Paulo Duque analisou em profundidade, caso a caso, e inocentou Sarney porque não havia evidências.
Esse é o Brasil de hoje.
E você, que dá ao Lula seus mais de 70% de aprovação, acredita em tudo acima? Mesmo?
Parabéns.
Publicado originalmente em 2001, no site www.paudabarraca.com.br
Hoje eu venho aqui para falar de um assunto que aflige a todos. Apesar da aparente futilidade à primeira vista, todos sofrem com este problema. Aquele que nunca sentiu os cabelos do braço se arrepiarem ao olhar para uma barata, que taxe de fútil este texto. E dizendo isso, acabei por adiantar qual é na verdade o nosso assunto: a Barata.
Barata deveria se escrever assim, com letra maiúscula. Ela já adquiriu esse status. A meu ver, ela não poderia nem mesmo ser incluída na classe dos insetos. Primeiro que os insetos andaram reclamando. Depois, como juntar, na mesma classe, uma singela borboleta, e uma repugnante cascuda? A barata é única. Suas particularidades mostram isso. É uma antítese viva. Veja os fatos. Ela morre com inseticida, mas não com uma bomba atômica. Existem caras muito machos, que se embrenham na selva , abrem trincheiras, socam jacarés, e o diabo; e muitos deles farão uma cara de nojo para pisar em uma barata.Aliás, as mulheres que me perdoem, mas quem sofre mais com esse "inseto"(?) são os homens. Eles têm a obrigação de não ter nojo. Quando, passeando por uma rua qualquer, um casal encontra a danada , e a mulher faz o já habitual escândalo: - Ai,ai,ai uma barata!!!!!!!Socorro!!!!
Nesse momento, baixa um Exu, ou qualquer coisa parecida e o homem põe-se a correr atrás do bicho até pisá-lo e ouvir, disfarçando o nojo, o característico "CREC!!", quando esmaga a coisa. Mas tenho certeza que a grande maioria preferiria reagir do mesmo modo que a Penélope Charmosa.
A barata é um bicho apolítico. Ela também não tem preconceitos.Vai aparecer em qualquer casa, seja ela limpa ou suja, rica ou pobre do PT ou do PMDB. Tanto faz.
Um dia desses, enquanto eu fazia meu tradicional passeio noturno pelos canais de televisão me bateu uma vontade - também tradicional - de tomar um café. Logicamente, fui até a cozinha. Note que quando se anda o dia inteiro pra lá e pra cá, a coisa que mais se aprecia ao se chegar em casa é arrancar os sapatos e andar descalço, sentindo o carpete macio sob seus pés. Baratas não respeitam esse tipo de prazer. Foi só eu entrar na cozinha para divisar do outro lado do cômodo próxima à geladeira, o monstro. Olhamos um para o outro - na verdade eu nem sei se aquele bicho tem ou não olhos, mas estou certo de que ela me olhou - ficamos assim durante uma hora, ou um minuto - o tempo passa de maneira diferente quando você olha para uma barata, isso é física pura - e eu pensava como seria bom estar com uma bota sete léguas cano longo naquele momento. Por fim, ela correu pra baixo da geladeira, e eu fiquei sem meu café.
Adqurimos então uma relação de respeito e ódio mútuos - eu insistia em buscar café descalço, e ela insistia em ficar esperando que eu fosse buscar café para aparecer - até que um dia, cansado daquela situação ridícula , resolvi calçar sapatos para entrar na cozinha. Em duas ou três incursões clandestinas, matei-a. E descobri um segredo estarrecedor. Não era apenas uma barata, e sim duas. Por isso ela se movia tão rápido.
Eu tinha então, um novo - e maior que o anterior - problema. Dessa vez quis resolvê-lo o mais rápido possível.Voltei ao campo de guerra no dia seguinte.Achei-a no batente da porta. Realmente era bom cuidar daquilo logo, antes que minha arquiinimiga resolvesse explorar lugares novos, como meu quarto, por exemplo. Me preparei, repirando fundo fundo e buscando apoio nos espíritos ao redor, fossem eles quais fossem. Me virei e desferi um golpe marcial que deve ter feito Bruce Lee revirar-se no túmulo. E foi então que nojenta também me atacou com sua arma derradeira. A barata não é apenas repugnante, mas também deve ter sorte, pois quando a atingi, sentindo o horrível amassar sobre minhas botas ela conseguiu espirrar aquela meleca - não preciso explicar, vocês sabem - exatamente em minha mão direita ( graças à Deus, sou canhoto) . Meu desespero não podia ser maior. Corri até a pia, abri a torneira, o mínimo possível de forma que a água saísse quase fervendo e despejei meio vidro de sabão. Naquele momento, a vontade que eu tinha não era de lavar a mão, mas sim amputá-la. Se eu fosse uma lagartixa, teria feito isso sem pestanejar. Enquanto isso a minha agressora se contorcia no chão como qualquer barata faria. Esta era a senha para atinji-la novamente, pois, provavelmante, eu não a acharia de manhã. Desta vez eu usei uma vassoura e fiquei o mais longe possível.Arghh!!
É necessário que se faça alguma coisa com esse bichos.Elas sobreviveram aos dinossauros - talvez tenham sido a causa da extinção deles, quem pode saber - irão sobreviver a nós também?Vamos exterminá-las, elas não fazem falta a nenhum equilíbrio ecológico. Provavelmente, nem foi Deus quem as criou. Até mesmo os sapos e morcegos ficarão agradecidos.
Uma Barata boa é uma Barata morta!
George Orwell previu, em "1984", que nossa sociedade seria observada 24 horas por dia por câmeras, o tal "big brother".
Na sexta feira, dia 19 de junho, por volta da meia noite, eu estava terminando de ler "A Estrada" de Cormack McCarthy, ganhador do Pulitzer de 2007. Aos prantos. Sério.
Bom, geralmente não faço isso mas esse como o comentário do Vinicius está bem fundamentado, vou abrir exceção aqui, pois ficou muito grande pra área de comments Vou parte a parte, Vinicius, interrompendo-o enquanto comento. A arte da dialética é uma coisa interessante. Você acaba de usar a lógica, a razão, para convencer as pessoas.
E minha opinião vai ser completamente diferente da maioria... fazer o que?
Eu acho que não precisa mesmo de diploma. Não precisa. Grandes jornalistas que estão por aí não tem diploma.
E quer saber mais. Também não precisa de diploma para ser designer. E antes que alguém pergunte, sim, sou formado em Design Gráfico pela FAAP, há mais de 12 anos.
Encarem os fatos, Andy Warhol não era designer, mas se ele quisesse fazer uma embalagem pro seu produto, vc recusaria? O que interessa, tanto em Jornalismo quanto em Design Gráfico, é o talento. E ponto.
Mas de modo algum acho que isso desmerece o peso da faculdade... se eu fosse contratar um designer hoje, o diploma teria sim, um peso enorme. Com certeza, o mercado dá valor a quem é formado. O cara que não é formado tem que se provar o triplo. Só que profissionalismo não se aprende em faculdade, não se enganem.
Me desculpem, mas o que falta em nossa área é profissionalismo, não diploma. É saber se portar, saber cobrar, saber dar e cumprir prazo, saber se expressar na frente de um cliente, saber se portar numa reunião. Isso diferencia o profissional MUITO MAIS que um canudo, ou mesmo regulamentação.
E uma coisa que designer tem que aprender, na minha opinião, é PARAR de se comparar a médico, advogado, engenheiro e dentista.
ACORDEM, se cair uma bomba amanhã e a humanidade tiver que se recompor, vamos viver sim, muito tempo sem designer, sem jornalista, sem decorador, mas DE MODO ALGUM, sem médico, dentista, engenheiro, cientista.
A faculdade dessas profissões é NECESSÁRIA porque ninguem aprende a fazer uma safena via tutorial na interner. Um médico passa 10 anos estudando e fazendo residência antes de montar um consultório. Designer faz freela no primeiro ano de facu. Se uma ponte cai, tem lá a assinatura do engenheiro que a projetou. Ninguém liga pro designer as 3 da manhã falando que tá com dor no logotipo. Liga pro dentista.
Essas profissões ganham mais porque tem que ganhar. Porque são essenciais.
Façam um exercício de humildade, saber disso não torna nossa profissão menos necessária no mundo de hoje.
Conforme prometido no último post, passo a publicar o que escrevi para o finado paudabarraca.com.br. Esse foi escrito por volta de 2001. Então não venham me dizer que parece com o Cilada, porque nessa época o Bruno Mazzeo ainda estava no playground, certo? Uma das coisas imprescindíveis na vida é aprender a se comportar numa mesa. Assim, você poderá esquecer tudo que aprendeu, para saber como se portar numa Churrascaria. 1 - Escolhendo uma Churrascaria 2- Entrando na Churrascaria. 3- Finalmente, as carnes
À princípio, parece até fácil. Basta sentar o rabo na cadeira e se empanturrar até não agüentar mais, e ir embora rolando para casa. Engana-se quem pensa assim. Comer em uma Churrascaria requer um nível até avançado de conhecimentos, para que não se coma gato por boi.
Felizmente, o paudabarraca está aqui para ajudá-lo a tirar todas aquelas dúvidas que você nunca teve cara-de-pau de perguntar a ninguém.
Preste bem atenção. Em matéria de Churrascaria, não se deixe guiar pelo nome. Um nome pomposo, com sotaque francês pode ser uma bosta, enquanto "Porcão" é uma maravilha. Existem outros modos de se ter uma pista da qualidade da Churrascaria antes de entrar. O principal deles é o mais óbvio: o preço.
Simples e básico: uma Churrascaria de R$ 35,00 por pessoa é excelente. Uma de R$ 8,90, geralmente, não. Por isso, se seu bolso anda igual ao meu, é melhor ficar na faixa de R$ 12,00 ou R$ 13,00.
Outra forma fácil de identificar quem entende da arte do churrasco é dar uma olhada nos garçons. Todos vão estar devidamente fantasiados de gaúcho. A diferença é que, nas piores, aquele japonês e aquele cearense não enganam ninguém.
Seja duro. Seco. Tudo ali é uma arapuca, pronta para você gastar o máximo, e comer o mínimo.
Se for um final de semana, é muito provável que apareça do nada um garçom com uma infinidade de licorezinhos ditos "para abrir o apetite". Um desavisado poderá achar que aquilo está incluso no preço do rodízio: ledo engano. Tome duas daquelas malditas canequinhas (são sempre bregas:azuis, rosas, com o nome do estabelecimento gravado na frente) e você já terá dobrado o preço do seu churrasco.
Conheço pobres inocentes que chegaram a tomar três ou quatro, e ainda pediram para encher só até a metade, enquanto o garçom vestido de gaúcho ria de uma orelha a outra.
É chegada a hora de conhecer a mesa de frios. Bom, mesa é modo de expressão, porque o a coisa mais parece um chafariz de comida. Ali, tem de tudo. As mulheres adoram.
Pesquise bem o que pegar. Não se empolgue, senão em dois minutos você estará comendo lazanha, e esse não é o seu objetivo nesta noite.
Ao sentar, tenha certeza. Mesmo que você estenda um outdoor vermelho, para a carne não passar ainda, o maldito gaúcho da lingüiça vai querer empurrá-la (no bom sentido) em você. Recuse. Lingüiça, você come em qualquer churrasco do seu sogro.
Diretiva número 1: não tente conversar.
Você está com a boca cheia, com fiapo de carne no dente, e os gaúchos não vão deixar. É um tal de "chuleta?", "picanha, senhor?", "maminha?". Esqueça. Concentre-se nas carnes. Aceite somente aquilo que você realmente gosta. Não tenha pressa, a churrascaria é grande, tem espaço para todo mundo. Se você for do tipo extrovertido, faça um alongamento de quinze em quinze minutos. Os gerentes não gostam, mas diabos, você tem seus direitos.
Quando voltar a passar só lingüiça, é porque você já está a muito tempo comendo. Está na hora de fazer pedidos.
Chame o gaúcho. Explique o que você quer. Fale da carne como quem fala da Luma de Oliveira. Seduza o cara. Ponha uma nota no bolso dele. Você vai ver. O sujeito vai sair lá do fundo, com aquela picanha sangrando, atravessar o salão inteiro ignorando o povo, e vai direto para sua mesa, oferecer o primeiro pedaço.
É imperativo saber a hora de parar. Preste atenção nos pequenos detalhes. Quando a mesa começar a se afastar sozinha, é um sinal. Veja se não é sua barriga que a está empurrando. Se for apenas um poltergeist, ou um terremoto, continue comendo.
4- Indo embora.
Considerando a orgia alimentar que você acabou de participar, é bom não facilitar as coisas. A tentação de cair no sono ali mesmo será quase irresistível.
Faça alguma coisa à respeito, discretamente. Na saída, finja tropeçar e caia no aquário,ou coisa parecida. Ninguém vai reparar, todos vão estar ocupados, entupindo-se de carne.
Há váááários anos, qdo eu era um dos escritores do saudoso (nem tanto) paudabarraca.com.br, eu montava Guias de Sobrevivências para os tempos modernos. Vou republicá-los aqui, e escrever alguns novos, porque o mundo está cada vez mais complicado, e você, leitor, pode precisar de nossa valorosa ajuda para deslizar calmamente por algumas águas da vida.
Estou cada vez mais pobre de novidades musicais. As coisas diferentes que eu descubro são de no mínimo 20 anos atrás. Tô ouvindo jazz antigo. Rock antigo. MPB antigo.
Pra quem não conhece e ficou curioso. Pra quem conheceu e está com saudades.
1976 - Fazenda
1ª faixa do álbum Geraes - Milton Nascimento
Pois é.
Para um fã da história em quadrinhos há pelo menos 22 anos, assistir Watchmen é uma experiência quase onanista. Nem tudo está lá (e eu nem esperava isso, a série é muito grande), mas tudo que está, ficou perfeito.
Das várias besteiras que as igrejas (em especial a católica) nos empurram goela abaixo, a mais nociva, na minha opinião, é o tal "feitos a sua imagem e semelhança".
O moleque idiota (ou idiotas, já que tem as motos também), está bêbado? Não.
É pobre, pra alegar que não teve educação da família ou escola? Não.
Se ele fosse parado, 500 metros à frente, por um comando, fazer bafômetro nele ia adiantar alguma coisa? Não.
Na verdade, esse é o problema. A Lei Seca entrou em vigor com grande estardalhaço, num primeiro momento até baixou o número dos acidentes. Durou o tempo de todo mundo perceber que as chances de ser parado, são mínimas. E aí, o brasileiro, que adora quebrar uma regra, ficou mais que a vontade.
Mas não é só isso. Que ninguém me entenda mal. Sou absolutamente contra beber e dirigir, mas não é essa a realidade das estradas. Não é esse o perigo. Acidentes com bêbados estão muito mais restritos aos limites das cidades. É o cara que sai na balada e volta ruim pra casa.
Eu ando 80km por dia em auto-estrada. Não tem um santo dia que algum idiota como esse (as vezes de Porsche, as vezes de Fusca, de Gol) não passe por mim, costurando as três pistas como se fosse tirar a mãe da zona.
Não tem um dia que um (ou vários) caminhoneiros não façam manobras arriscadíssimas, trafegando por todas as pistas, parando onde não devem, forçando passagem.
São esses que provocam os acidentes. Especialmente os mais graves. A combinação é simples. Excesso de confiança, falta de educação e certeza de impunidade.
O número de mortes é absurdo. Na reportagem, se lê: 127, só em rodovias federais, só no carnaval. Mais da metade do acidente da TAM que parou o país. Se algum dia (porque até agora, só publicidade) o governo quiser REALMENTE diminuir esses números, vai ter que perceber que o buraco é beeeem mais embaixo.
Primeiro: exemplaridade, e publicidade de operações. Por exemplo. Este video está na internet. Uma PORRADA de gente já viu. Será que é tão dificil pegar esse moleque? Será que temos tantos Porsches assim rodando por São Paulo?
Segundo: a polícia devia poder ( e aí tem que mudar a lei) andar em carros sem identificação. Para que os motoristas soubessem que a qualquer momento alguém poderia levantar uma sirene e pedir explicações.
Terceiro: lei mais rígida. Bem mais rígida. Algumas pessoas não podem dirigir, são psicopatas ao volante. Tem problemas psicológicos, de afirmação e querem atenção. Uma vez pêgos nessas condições, dirigindo muuuuito acima da velocidade permitida, ou fazendo manobras arriscadas a troco de nada, deveriam sim, perder a carta instantâneamente, sem direito de tirar outra.
Quarto: caminhoneiros. Neste país, pessoas completamente despreparadas dirigem veículos que são simplesmente ARMAS. A carteira de um caminhoneiro (como é a de um médico) deveria ser especial. A punição por ser inconsequente deve ser maior, muito maior. Afinal, eles são PROFISSIONAIS que deveriam, mais do que qualquer outro, saber o que estão fazendo.
Quinto, e mais importante: olhar pra dentro do DETRAN. Devem haver milhares de motoristas que não tem a menor condição de estar nas estradas, mas compraram as carteiras, ou alguem dentro do DETRAN pra tirar os pontos de multa que já tinham. Quem não conhece alguém que comprou uma carteira? A mim foi oferecida na cara dura, a caminho da prova de habilitação.
Enquanto medidas como estas, e outras ainda mais drásticas não forem tomadas, vamos continuar comemorando porque ano passado perdemos 128 e esse ano APENAS 127.
Quem me conhece, sabe que tenho motivo pra falar.
Graças ao Roger, descobri um site cheio de posters e publicidades do passado.
Tem uma seção só com anúncios de cigarro, que, por mais que eu saiba o mal que fizeram, são os mais divertidos. No meio de "Camel, os mais fumados por médicos", encontrei essa pérola do duplo sentido que faz o Tiririca parecer o Juninho Bill.
Se vc fala inglês, a piada tá pronta. Se não, a tradução seria algo como "Sopre na cara dela, e ela vai segui-lo por todos os cantos." Mas tem uma conotação safada que fica perdida por ali. Enfim, use sua mente em modo Putaria nível 3 e você VAI pegar a mensagem.
Galera, vejam só.
essa foto saiu na Época São Paulo da Semana passada.
A matéria, senão me engano, falava sobre personagens do carnaval de São Paulo. A Gabriela me chamou, e confesso que a principio não vi nada de errado.
Mas dá uma olhadinha (clique pra ampliar) na região do agrião do pobre velhinho.
Coitado. Porque não usaram um carimbinho do Photoshop, resolvia essa questão em minutos, e o saco do véio não ficava exposto pro Brasil inteiro ver. Se o caso fosse a celulite da mulher melancia eles com certeza dariam um jeito.
Capitulo 2 -
1991 - Under the Bridge
11ª faixa do álbum Blood Sugar Sex Magik
Em 1989 eu estava chegando em São Paulo. Vinha de uma cidade pequena e esquisita chamada Barra Mansa (RJ), de onde, depois de 12 anos, só consegui guardar meia dúzia de amigos e muitas frustrações. Era uma cidade meio pequena, meio careta, meio atrasada, meio feia, meio triste.
Eu queria ir embora.
Depois da morte do meu pai, por motivos que hoje em dia eu mesmo não entendo, minha mãe resolveu deixar Barra Mansa e vir para São Paulo, com 3 filhos a tiracolo. Esse já era meu plano, vir fazer faculdade em um grande centro. Só não imaginava que seria nessas condições.
A familia veio antes, e eu, como tinha que terminar os estudos, vim mais tarde, de ônibus. Mudei para São Paulo sem nunca ter colocado os pés nela antes. Só conhecia a cidade por reportagens do Globo Repórter. Da janela do ônibus, contemplei o monstro, a cidade que não acabava nunca. Era noite.
Os inícios de mudança, como namoros, são sempre doces. Nos mudamos para um prédio próximo à Brigadeiro Luis Antonio, e, num sentido dava pra ir andando até a Avenida Paulista, no outro até o centro. E era o que eu fazia. A pé, eu ia até o centro, o Viaduto Maria Antonia, a Praça da Sé. Visitava sebos, entrava naqueles cinemas enormes que não existem mais. Do lado oposto, tinha a Paulista. E lá ia eu até a Consolação, parando em tudo que tinha no caminho. No Conjunto Nacional, no Belas Artes, no Masp, e claro, no Mac Donalds! Era tanta informação, tanta oportunidade. Me sentia no centro do mundo.
Perambulando por ali, comecei a descer para os Jardins. E na rua Joaquim Eugênio de Lima encontrei uma locadora de vídeo (sim, isso existia) com uma placa na porta: "precisa-se de atendente".
Eu nunca tinha sido atendente de nada na minha vida, mas em se tratando de filme, não podia dar errado. Fiz uma entrevista rápida, e de primeira estava contratado.
Me dei muito bem. Os milionários dos Jardins gostavam das minhas indicações. Os Titãs disseram que riquesas são diferenças, mas para mim, tudo mudou muito pouco desde aquela época. Os senhores estressados, as madames de cachorrinho na mão, as que iam com o Personal a Tiracolo, as crianças vestidas de adultos, alguns adultos vestidos de adolescentes.
Não demorou muito, fiz amizade com alguns clientes. E é aí que a música do Red Hot começa a fazer sentido.
Esses novos amigos e amigas tinham a minha idade. E as semelhanças terminavam por aí. Tinham muita grana. Eu entrava em apartamentos cuja sala era maior que minha casa inteira. Confesso, me deixou meio deslumbrado. E durou um tempo.
Aquele povo frequentava baladas que estavam fora do meu alcance. Rose Bom-Bom, Chez Michou, HippoDromo, o Gallery, o Banana Banana, entre outros. Mas eu queria estar junto. Me chamavam, e lá ia eu. Quando chegava nos lugares, percebia que ia passar a noite sem comer nem beber nada, mal tinha a grana da entrada. Descobri que, para os padrões deles, eu me vestia mal, não tinha carro, e não cortava meu cabelo no mesmo lugar.
Eles não eram ruins. Só não conheciam outra maneira de se portar. Alguns hábitos de gente com grana podem ser beeem irritantes. O pior deles é o desconhecimento do valor do dinheiro. Gastavam uma baba em chocolatinho Godiva, porque é igual ao que comeram na Suíça, mas encanam com 5 reais que de diferença que deu na conta da pizzaria.
O que mais me lembro, é da sensação de não pertencer àquele lugar. De estar no meio de um monte de gente, e se sentir só. Acho que mais só do que nunca. Meu refúgio era a cidade.
Eu fugia pras livrarias, pros cinemas, pro teatro. Eu andava, andava e andava. Com uma rota de ônibus na mão, não tinha lugar onde eu não conseguia ir. Quando lembro dessa época, ainda que a música não seja contemporânea, os versos se encaixam perfeitamente:
"Sometimes I feel
Like I dont have a partner
Sometimes I feel
Like my only friend
Is the city I live in
The city of angel
Lonely as I am
Together we cry"
Aquela mesma locadora abriu uma filial, lá perto do shopping Morumbi. Eu fui pra lá como gerente. Lá eu desencanei. Lá eu descobri outra São Paulo. Mas isso é caso pra outra música.
É só o tempo que te deixa perceber que, se o mundo é redondo, qualquer lugar é o centro dele. O que interessa é estar firme, com os pés no chão.
A indústria de entrenimento insiste em enxergar a questão dos downloads de maneira maniqueísta e simplista.
Se os canais a cabo tivessem metade da agilidade que os "lengendeiros" têm, muita gente não faria download.
Se sites como o iTunes funcionassem efetivamente no Brasil, vendendo música a preços realmente convidativos, outro tanto não faria download.
Se a indústria, que é tão poderosa, pressionasse as operadoras de Banda Larga (como a Telefonica) a atenderem seus clientes de maneira mais aceitável, possibilitando que conteúdo possa ser acessado legalmente (gerando lucro portanto), ao invés de se dedicar a carçar cada moleque que compartilha arquivos, ganharia terreno (e grana). Isso permitiria que serviços como o Hulu, e locadoras on-line como a BlockBuster gringa, e aparelhos como o Apple Tv pudessem ser usados no Brasil.
Fazer o download de uma série não é como comprar um filme no camelô. No fim das contas, eu pago TV a Cabo, que exibe reprises e reprises e reprises, e ainda me entope de propaganda do pior tipo O negócio mudou, mas a indústria vai morrer afogada segurando-se a um osso pesado, que só vai levá-la mais pro fundo.
E surgir um novo canal de legendas, ou uma alternativa de download é questão de minutos.
Capítulo 1 - Find the River - R.E.M
Não sei se todo mundo tem uma relação com música igual a minha. Mas certas memórias minhas só voltam à mente acompanhadas de uma trilha. É natural, e é inevitável. Ao ouvir essas canções, eu quase consigo sentir o cheiro da época.
E não é algo que possa ser emulado. Não dá pra dizer: vou ouvir pra caramba isso aqui, assim vai marcar essa época. Simplesmente acontece. E só depois de muito tempo vc vai perceber o que aquela música representa.
Essa série de posts que eu inicio agora talvez seja a mais pessoal que eu já escrevi. Vou fazer um esforço para ouvir, e registrar o que lembro quando ouço determinadas músicas. Para mim, vai ser uma viagem. Espero que não seja chato pra quem lê.
1992 - Find The River
12ª faixa do álbum Automatic for the People
R.E.M.
Em se tratando de nostalgia, nenhuma banda me toca mais que o R.E.M.
O disco imediatamente anterior a esse tinha estourado de tanto tocar (não há quem não se lembre de Losing My Religion). Acho que eles emplacaram todas as faixas de Out of Time, que tinha melodias que grudavam instantaneamente, como Shiny Happy People e Radio Song. Quem, como eu, já conhecia a banda, sabia que ela podia ser bem mais pesada.
Quando Automatic saiu, foi um certo choque. Era o contrário do que eu esperava. Um disco inteiro melódico, com arranjos perfeitos, um tom levemente deprê. Na minha opinião, um dos melhores CDs que eu já ouvi.
Mas não foi em 1992 que este CD fez parte da minha vida. Na época ainda era possível assistir MTV, e era o que eu fazia. Constantemente. Na verdade, não via outra emissora. Ainda haviam VJs interessantes, era a época do Thunder, da Cuca (aliás, que Cuca!), Rodrigo, Gastão, enfim, um pessoal não era só metido a engraçadinho. Além disso, (olha só) tinha música na MTV, não um amontoado de reality show e programinha pra pivetada arrumar namoro.
Duas músicas desse CD caíram no gosto popular, de cara: Everybody Hurts e Nightswimming. Tinha motivo, as músicas eram sensacionais. Mas as melhores estavam escondidas.
Em 1993 eu entrei na faculdade.
Formei uma renca de amigos e amigas, que eram infinitamente mais interessantes que as aulas.
Curiosamente, não foi a putaria que marcou meu período de faculdade. Eu já namorava a Gabriela, que é a Sra. Rodrigo Teixeira hoje em dia. Foram as amizades mesmo. Foi a descoberta que existiam outros malucos iguais a mim. Um monte de sujeito esquisito, magrelo e narigudo que gostava de cachaça, música e cinema tanto (ou mais) que eu.
Em meados de 93, 94, a turma estava muito unida. Eramos uns 10, 12 no máximo, mas sempre tinha o que fazer. Começamos a marcar viagens em feriados.
Foram umas 4, 5 viagens.
Find the River me lembra essas viagens.
Me lembra voltar dos botecos das cidades no meio da madrugada.
Cair na piscina de roupa, correr no meio do canavial na escuridão total, ficar falando merda na varanda até quase amanhecer. Beber até não parar de pé. Não poder dizer uma frase sequer sem que alguém levasse pro duplo sentido. RIR ATÉ DOER.
O tipo de amizade que nunca mais vou ter. Amigos que estavam ali pra qualquer parada. A falta de responsabilidade, não precisar pensar no amanhã, foda-se se a gente ia pro trabalho com uma ressaca monstruosa.
Hoje, com todos cuidando das vidas, filhos, empregos, esposas, contas, é impossível até mesmo tentar repetir esses dias. Mudou quase tudo. Não há pisada na bola impune. Alguns deixaram de ser amigos. Outros, e justamente àqueles que a gente menos esperava, reaparecem sem aviso.
Alguns nunca foram embora, e hoje são irmãos, do coração. E é bom ter a trilha sonora à mão para ouvir, lembrar dos bons tempos, e rir de tudo novamente, ainda que (como algumas bebidas que a gente consumia tanto na época) a doçura do riso termine com um gostinho um pouco amargo da nostalgia.
Outras trilhas que me lembram do mesmo (mas não com tanta força):
I alone - Live
Blister on the Sun - Violent Femmes
Have you ever seen the rain - Creedence Clearwater Revival