Só pra me obrigar a desenhar mais, vou postando os rabiscos (qualquer merda, já aviso) que eu fizer no meu caderninho.


Caetano não está preocupado em ter um presidente que usa termos como "Sifu" em um discurso oficial. Ele está sim, meio ressabiado (mas não demais) porque a imprensa escreve "siFU", ao invés de "siFO".
Esse é o retrato do povo que tinha tanto a dizer durante a ditadura. E isso porque é Caetano, que ainda fala. O Chico não se compromete, não diz mais nada.
A classe artística brasileira, atualmente é bem sui generis. É de se esperar que os artistas sejam efetivamente formadores de opinião, que provoquem e instiguem. É assim no resto do mundo. Artistas abrem seus votos, se engajam em campanhas, organizam eventos numa velocidade formidável.
Aqui, nem uma tragédia como a de Santa Catarina mobiliza essa gente. No máximo, aparecem no Faustão pedindo, "vamos ajudar essa gente sofrida". Quando na verdade, estão só lamentando os shows cancelados.
Não é raro que apóiem algum instituição, mas ou fazem de modo anônimo, ou fazem um estardalhaço midiático que não orna com os resultados esperados.
Para nossos artistas, um Bono Vox, um Leonardo diCaprio, uma Angelina Jolie, que bem ou mal colocam a própria cara a tapa, devem soar "piegas". Melhor ficar quietinho no seu canto, a procura de uma verbinha da Lei de Audiovisual, e esperar pra dar uma opinião rasa em um programa dominical qualquer.

E você leitor? Se sente Fodido ou Fudido?
E tem diferença?


É sempre assim.

Você escolhe o filme-catástrofe mais legal da temporada, atrás de 2 horas de destruição insensata. A trama se desenvolve bem.

Nosso herói descobre o perigo. Avisa o prefeito/presidente/xerife. Ele desacredita o herói. Wilbur, o assessor, ri da cara dele. O perigo avança.

A família de Wilbur é a primeira a pagar com a vida, quando a ameaça já está comendo solta. O prefeito/presidente/xerife diz "eu devia ter acreditado nele", antes de ser dilacerado pela ameaça.

Faltando 3 minutos para a destruição insensata, o herói liga pra casa. Como num passe da mágica, sua mulher consegue manter a calma, vestir as crianças, fazer malas, sanduíches e ainda tirar o carro da garagem sem bater, quando o filho mais novo diz:

– Mas mamãe, e o Toby? Ele vai morrer?

Naquele momento, se ela pisar no acelerador, vai dar tempo dela sair da cidade, antes que a ameaça queime sua casa, destrua sua rua e torre 30 milhões de dólares em efeitos especiais. Mas adivinha qual é a decisão da mãe??? Botar a vida dos 3 filhos do herói em risco pra salvar o maldito cachorro.

Vão dizer: "você pensa assim porque não tem cachorro". Tenho. E adoro o bicho. Mas eu tenho filho também, e na hora de escolher entre um e outro, não tenho dúvida.

Então, diretores de filmes-catástrofe. Já que vocês vão salvar o bicho mesmo, façam com que a mãe lembre dele no primeiro momento, sem precisar voltar na zona de guerra e ficar gritando: "venha Toby, não tenha medo", fodendo com o filme que estava indo bem até ali.


Não me levem a mal. Eu gosto de Gonzaguinha.
O que eu não aguento é que em cada dinâmica de grupo, em cada maldito fim-de-festa, em cada momento edificante que a gente passe nesse país, tem sempre um pela-saco sem repertório que puxa um: "...eu vivo com a pureza da resposta das crianças... é bonita..." com os braços levantados pra cima como se sentisse o próprio Cristo. Sério, DECLAMAM Gonzaguinha como se fosse Shakespeare.

E a galera segue.

Não aguento mais. Vamos deixar combinado, a música é boa, mas deu. Tem um a pá de música edificante boa por aí, deixa essa quieta. Já foi o tempo dela. Vai ouvir os discos do Gonzaguinha, tem um monte de música boa.

Mas percebo que isso é apenas o início do problema. Nós estamos infectados pelo lugar comum. Sempre optamos pelo conhecimento chulé. Por isso agora nasce essa campanha, por um mundo livre dos lugares-comuns. Participe!




Começou há alguns anos, não sei precisar extamente a data.

Nem sei quando me dei conta. Todo bar que eu ia. A cada Undenberg, Cinzano ou Catuaba Selvagem que eu punha para dentro, mais evidente ficava.

A figura escura, sentada à penumbra, o copo parado à frente o cigarro entre os dedos, quase como se fosse um altar. A rosto vincado, anguloso, quase sizudo.

Eu mudava de boteco, mudava de trago, mas fosse na Belco ou na Xiboquinha, ele estava lá. Será que me julgava?

Perguntei a amigos. Vocês vêem aquilo que vejo? Ele também aparece para vocês? Ninguém via nada.

O desespero tomou conta de mim quando o vi em um casamento. Como poderia ter entrado? Seria amigo de algum amigo? Seria da família?

Pensei em tirar satisfações. Mas ele sempre estava na mesa do fundo. Quando eu me dirigia a ele, já estava lá atrás, mais atrás, mais no fundo. E dessa forma eu o persegui até o Jabaquara. E de lá eu não passo.

Com o tempo ficou evidente. Não havia o que fazer. Mas tudo fez sentido, não sei como não havia percebido antes.

Eu estava sendo assombrado pelo fantasma de Nelson Gonçalves.

Hoje não me abalo. Descobri que se levantar o copo de Dreher num brinde, ele levanta o copo dele lá no fundo, dá um sorriso e não me enche o saco.

Como qualquer um dos milhões de brasileiros, sou gato escaldado, e desde a prisão dos envolvidos nesse mais novo escândalo (que de novo, não tem nada), mantive minha fé inabalada de que nada ia acontecer mesmo. Era como um filme já visto, e ruim, ainda por cima, o que significava que não valeria nem a pena assistir até o fim. Já sabia que seriam soltos, já sabia que as outras excelências de Brasilia iam condenar o tratamento tão desumano destinado a esses senhores.

O Ministro do Supremo ficou indignado com a maneira que foi conduzida a operação. Horas depois de serem transmitidas pela TV, ele já tinha opinião formada. Estranho... não me lembro dele ter se manifestado a respeito do modo que os policiais trataram o menino João Roberto.
Bom, talvez porque isso não o diga respeito, afinal, os filhos do juiz deve andar em carros blindados, não têm esse problema. Já o modo que CORRUPTOS são tratados o incomodam. Talvez porque ele possa ser o próximo.

Ocorre que uma coisa me incomodou nesse caso mais que em todos os outros, desde o começo. É apenas um detalhe. A princípio, nem me atingia. Mas hoje, quando vi a noticia dos delegados da Operação Satiagraha misteriosamente se afastando, um a um, cada qual com uma explicação mais estapafúrdia, a coisa me atingiu. Eis o gesto:


O SORRISINHO DE DANIEL DANTAS

É esta a expressão de alguém que está sendo levado preso de dentro da sua casa, em rede nacional? É assim que uma pessoa muito preocupada com sua reputação se parece?

Daniel Dantas ri. Eu leio às notícias, ouço a comentários, mas em minha mente, Daniel Dantas está rindo. Habeas Corpus, delegados, aberturas de Jornais Nacionais e Daniel Dantas ri.

Daniel Dantas está rindo de Protógenes Queiroz.
É um sorriso mal acabado, de vilão de história em quadrinho, que coloca os pingos nos is, devolve o delegado a sua reles insignicância, como se gritasse pra quem quizer ouvir:

"Quem você pensa que é? Esta merda de país é MEU!! O Juiz, o Ministro, o maldito Presidente da Republica! Todos eles comem na minha mão! Os tempos de Pasárgada acabaram. Eu não sou amigo do Rei, eu sou DONO do Rei. Eu paguei meu caminho até aqui, e vou continuar pagando até sair!"

Daniel Dantas ri de você, de mim. De todos esses patetas que acreditam que o Brasil não é dele.

Não vou julgar Protógenes Queiroz. Vai saber que tipo de ameaça esse homem sofreu. Não sei se ele tem família, ou uma carreira para tentar continuar mantendo. Não vou julgá-lo porque cada vez fica mais claro que não vale a pena sacrificar um fio de cabelo por esse amontoado de sujeira que alguns insistem em chamar de pátria.

MANDA QUEM PODE, OBEDECE QUEM É JUIZ

Bom fim de semana!!

Quem são os diretores de cinema que realmente valem ingresso, da última geração.
Quem são os temerários? Quem são os merdas?

Minha análise, direto ao ponto. Assim mesmo, sem introdução.

OS FODÕES

Guillermo Del Toro
O terror pode ser um pretexto para mostrar eviscerações e maquiagens toscas, ou para examinar os lados do ser humano que a gente simplesmente não curte olhar. Incomodar, fazer pensar.
Del Toro construiu sua crescente reputação no cinema com filmes de horror. Mas os filmes dele são mais que isso. E ele já mostrava isso bem antes do magnifico Labirinto do Fauno. Em A Espinha do Diabo ele já mostrou uma das mais pertubadoras e originais concepções de fantasma que eu já vi na vida. Seus filmes tem um lirismo por trás do grotesco. Se é que se pode dizer isso, um "bom gosto" classe em cada frame, nas maquiagens sem rival no cinema atual. Já estou roendo as unhas de vontade de assistir ao seu O Hobbit.

Paul GreenGrass
O cara dirigiu os dois últimos Bourne e isso já deve ser o bastante. Supremacia Bourne é provavelmente o melhor filme de ação que eu já vi. Pouca gente conseguiria dosar tão bem a
quantidade de diálogo e porrada num mesmo filme como ele. Fico pensando nesse novo Bond na mão de um cara como ele.

Francis Lawrence
Quando falaram que Constantine era moreno, morava em Los Angeles e atendia pelo nome de Keanu Reeves eu apostaria minha perna esquerda como o filme seria uma merda sem tamanho. Lawrence calou a minha boca com honras. O filme mantinha a essência do personagem, era ágil, bacana, e com um apuro estético de chamar a atenção.
Com I Am Legend ele provou pra todo mundo que era possível fazer um blockbuster de verão numa versão "quase monólogo". Dois filmes, dois grandes acertos. Olho no cara.

Christopher Nolan
Nem sei se ele deveria estar aqui, porque já é mais que reconhecido. Nolan é um daqueles caras que entende muito de cinema, que não está atrás de mais uma obra. Não se repete, não fica ganhando o espectador com brincadeirinhas de câmera. E olha que ia ser fácil vestir o capuz de "alternativo" depois de Amnésia. E tudo que eu vi até agora do novo Batman só reforçam minhas opiniões.

Fernando Meirelles
Control-C Control-V em Nolan. Apesar de serem diretores absolutamente diferentes no estilo, Meirelles é um daqueles caras que entende muito de cinema, que não está atrás de mais uma obra. Não se repete, não fica ganhando o espectador com brincadeirinhas de câmera. E olha que ia ser fácil vestir o capuz de "alternativo" depois de Cidade de Deus. E tudo que eu vi até agora do Blindness só reforçam minhas opiniões.

Zack Snyder.
300 de Esparta consegue ser um filme absolutamente fiel aos quadrinhos, sem que pra isso mire excluvisamente em nerds que tem altares erguidos ao Frank Miller em casa. E Madrugada dos Mortos é o melhor filme de um gênero onde não existem melhores filmes, que é o de Zumbi. Snyder juntou na mesma sala de projeção os doidos por tosqueira, os doidos por ação e os doidos por cinema. E preste atenção em Watchmen, porque ele está fazendo de novo. Só de ver os cenários dá para ter idéia do que nos espera.


OS BOSTAS

Eli Roth
Esse é do tipo "não vi e não gostei". Gore sem cabeça tipo extra-nojento definitivamente não faz minha cabeça. Roth devia se dedicar a filme pornô. Mas acho que se fosse para esse filão, ia acabar dirigindo necrofilia, zoofilia ou coisa pior.

Uwe Boll
Quem dá dinheiro para esse cara? Quem?!!

David Goyer
Cada vez fica mais claro que os roteiros de Blade 2 e Batman Begins só resultaram em bons filmes porque os diretores mudaram tudo. Goyer é metido a Geek, mas quando resolve dirigir não tem classe, nem ritmo, nem senso de humor (ou de ridículo). Blade Trinity é tão ruim que acho que a recente prisão do Wesley Snipes deve ter a ver com isso.

Mark Steven Johnson
Esse cara é um problema. Ele dirige adaptação de quadrinhos, Ok. Ele até escolhe um elenco razoável (fora o Clarke Duncan como rei). Visualmente (nas fotos, pelo menos) o filme funciona (difícil alguma coisa mais fiel que o Motoqueiro Fantasma). Quando junta tudo, o filme é uma merda.

OS AMARELOS

Irmãos Coen
Comecei por eles para chamar a polêmica. Sempre gostei dos Irmãos Coen. Até do The Hudsucker Proxy eu gostei. Até do Intolerable Cruelty, juro. E justamente o filme que eles ganham o Oscar eu acho uma porcaria tão grande que chega a me dar câimbra.
No Country for Old Man é chato, longo, metido a besta e com o final mais "veja, sou cult" da história do cinema.

Robert Rodrigues
Ele tem três qualidades. 1 - Seus filmes são baratos, então dão lucro. 2 - Ele fez Sin City. 3 - Ele está se divertindo. Mas Rodrigues tem bem pouco talento como cineasta. Está preso num estilo de filme. Mas tem um faro para coisas "cool" que pipocam naquele momento.

M.Night Shymalan
Se esse Fim dos Tempos não for muito bom, é capaz do Shyamalan ficar mais conhecido como "aquele cara que dirigiu A Dama da Água" do que por O Sexto Sentido.

John Woo
Na verdade, só não pus o cara com os Bostas por causa de A Outra Face, que eu gosto muito. Mas se ele dirigir outro filme com explosões em câmera lenta, mocinho correndo com duas Uzi nas mãos e pomba voando no fundo, eu mudo de opinião.


Desde que eu vi o primeiro poster que o Frank Miller rabiscou pra esse filme, eu ando ressabiado. E depois que eu vi o trailer, minhas suspeitas só se confirmaram. É o óbvio mesmo: ele está fazendo Sin City 2.
Antes que qualquer coisa, vou avisando. Não sou purista e nem mesmo um grande conhecedor do Spirit. Mas acho até meio mal-educado do Sr. Miller fazer isso. Do que eu vi até agora, ele simplesmente apagou o personagem, e substituiu por um seu. Só sobrou (na melhor das hipóteses) a roupa.
Miller é meio fascinado consigo mesmo, isso é um problema. Pra ser auto-referente, a pessoa tem que ter pelo menos uma obra prima no curriculo, e ele está só começando no cinema. Tá certo, o cara escreveu Cavaleiro das Trevas, 300 e o próprio Sin City. Por outro lado, escreveu o Cavaleiro 2 (acho DK2 o Plan 9 dos quadrinhos) e aquela série nova de Batman and Robin, que faz Rob Liefeld parecer um filósofo.
O que ele está fazendo é como se James Cameron dirigisse um novo Indiana Jones, mas "no estilo de Exterminador do Futuro", porque ele se acha bem melhor que o Spielberg. Não é exatamente humilde. Miller vêm dos quadrinhos, e escolheu uma obra consagrada pra meter a mão.
Fora que (será que só eu acho isso?) o trailer é uma bosta mesmo. Escolheram uma trilha sonora nada sutil dos Intocáveis (imagine assistir o trailer de Star Trek ouvindo a trilha de Star Wars). Narração em off com voz gutural, que só se encaixa para o Batman mesmo. O Spirit dá umas piruetas no mínimo esquisitas (e desnecessárias), parece que foram rotacionadas no flash. E quando corre sobre o fio, parece falso e sem peso, além de usar um tênis vagabundo, que mais parece uma conga preta, que acabaria com a reputação de qualquer herói.


Minha conclusão: Mr. Miller, vc ainda não tem classe.
Asssita 300 de Esparta mais umas 20 vezes. Aquele é o caminho.


Os anos 90 e parte dos 2000 foram dominados pelos VIP.
Ser um "Very Important Person" era (pra usar uma gíria que eu detesto) o "must". Estar no camarote certo, ter acesso àquela festa, frequentar determinado "point", furar as filas mais concorridas. Quem podia, tripudiava em cima dos pobres mortais, como eu, que estão cagando para isso.
Agora a onda mudou. Para ser notado, ou voltar a ser notado em muitos casos, você não tem que ser VIP, tem que ser VUP.

VERY UGLY PEOPLE.

Eu pensava nisso hoje enquanto via o trailer de um filme novo do Burt Reynolds.
Caramba, eu gostava do Burt Reynolds nos filmes dos anos 70. Ele era um meio um Sean Connery americano. Fazia o tipo "sou galã, mas nem ligo".

Corta.

Veja o trailer (http://www.apple.com/trailers/mgm/deal/)

Jesus! Eu mal consegui ver o trailer todo (imagina o filme...). O cara parece um boneco animatrônico feito em Parintins, daqueles que dois sujeitos controlam a cabeça. Mal consegue piscar. Dá uma certa repulsa.

Reynolds não é o único. Que o diga Angela Bismarch, que vai mexer até no olho de Tundera.

O triste é ver que até mulheres lindas como a Nicole Kidman tão entrando nessa. Aí a gente percebe que não importa quanta grana, quanto glamour, no fundo são inseguros iguais a qualquer mortal.

"Não desligue. Sua ligação é muito importante para nós. Em instantes, uma de nossas consultoras irá lhe atender. Não desligue. Sua ligação é muito importante para nós. Em instantes, uma de nossas consultoras irá lhe atender. Não desl..."

- Inferno, boa tarde. Marisleide falando em que posso ajudar?
- Boa tarde. Eu queria fazer uma reclamação. Eu vendi...
- Com quem estou falando, Sr?
- Ah, desculpe, é Adalberto...
- Pois não Sr. Adalberto, qual seria a reclamação?
- Ah, sim é que eu vendi m...
- Sr. Adalberto, o Sr. fala de São Paulo capital?
- ...? Não na verdade é do...
- Sr. essa linha é somente para São Paulo capital um momento vou transferir?

"Não desligue. Sua ligação é muito importante para nós. Em instantes, uma de nossas consultoras irá lhe atender. Não desligue. Sua ligação é muito importante para nós. Em instantes, uma de nossas consultoras irá lhe atender. Não desligue. S..."

- Inferno, boa tarde. Juvenilda falando em que posso ajudar?
- Boa tarde. Eu falei com a outra moça, eu queria fazer uma reclamação.
- Com quem estou falando, Sr?
- Adalberto...
- Sr. Adalberto qual seria a reclamação?
- É o seguinte, na semana passada eu vendi minha alma ao demônio pra recuperar minha namorada. Só que hoje de manhã eu morri e agora...
- Senhor, o senhor efetuou a transação em uma de nossas autorizadas, senhor?
- Eu... Acho que sim, ué? Era um terreiro na rua de baixo da minha casa, me recomendaram...
- Senhor qual seria o endereço, senhor?
- Hum, é rua Damienciano, 33, fundos...
- Senhor um momento vou estar verificando, senhor?

"...possuímos a melhor infraestrutura nas áreas de dor, penitência e tortura. Junte-se já. Traga um amigo e ganhe gratuitamente uma passagem para Águas de Lindóia. Em breve! Novos condomínios para os pecados novos. Consulte pacotes especiais para gula, avareza e ira. Preços especiais para grupos fechados..."

- Ok senhor. Foi confirmado, "Terreiro do Pai Xalunga" consta.
- Então mas o que estou dizendo é que eu não consegui minha mulher de volta, agora eu morri. Eu quero saber como que vai ficar isso.
- O senhor chegou a assinar o contrato, senhor?
- Claro. Com sangue e tudo na pele do bode. Direitinho.
- O senhor poderia estar passando um fax do contrato para o jurídico analizar, senhor?
- Não, claro que não? Eu morri, ué! Como que eu iria estar com esse contrato na mão? Depois pele de bode não passa do fax.
- O senhor lembra o número do contrato para eu estar puxando no sistema senhor?
- Lógico que não! Ninguém me disse que eu tinha que anotar isso. Eu quero minha alma de volta!
- Senhor a empresa não tem política de devolução senhor.
- Mas eu preciso dessa alma! Senão não posso entrar, caramba!!
- Senhor desculpe senhor, mas de onde o senhor está ligando?
- Eu tô aqui na porta do céu. Sem alma não me deixam entrar, catzo!!
- Senhor sinto muito informar senhor, mas essa região onde o Sr. está é fora da nossa área de cobertura. O Inferno agradece tenha um bom dia.

TU TU TU TU TU TU

Eu não nasci fissurado por velocidade.

Eu ando no limite que meu carro permite, e está ótimo. Reconheço que a faixa da esquerda não é o meu lugar. Eu a uso somente para ultrapassagens.

Agora que moro no interior, ando 80km por dia na Raposo Tavares. Se, enquanto eu estava rodando dentro da cidade meu pior pesadelo eram os ruelas que resolviam não andar no meio de uma avenida, numa estrada é exatamente o contrário. Os apressadinhos é que me dão dor de cabeça.

Existe um tipo de motorista nesse país que se proliferou na mesma velocidade das vendas de video game. É o cara que curte uma "direção esportiva". Isso significa andar o mais rápido possível, fazer ultrapassagens arriscadas, costurar de cá pra lá usando todas as faixas que tiver direito e mais algumas que não tem.

Se você perguntar para esse cara, ele lhe dirá "que dirige pra caralho". Que "só anda no talo". Que "tem ódio dos mané a 80 por hora na frente dele".

Invariavelmente eis o que acontece. Lá estou eu, na minha faixa do meio, até que preciso fazer uma ultrapassagem. Muitas vezes, do meu lado forma-se uma fila de 2 ou 3 caminhões, as vezes um carro mais lento. Aí surge do nada, "a milhão" o cara atrás. E cola no meu carro. Fica a 30, 20 cm do pára-choque. Dá farol. Quando é possível enxergar a cara do sujeito por trás do Insulfilm, o que eu vejo é quase uma caricatura de um figurante do Speed Racer. É impossível não ficar tenso.

A primeira pergunta que me vêm na cabeça é: PRA ONDE ESSE FILHO DA PUTA ESPERA QUE EU VÁ? Ao meu lado, tudo que tenho é caminhão. Meu estranho instinto de auto-preservação me impede de ir pra baixo dele apenas pra deixar o caminho livre para o maluco de trás.

Depois fico conjeturando. A essa distância, não há reflexo bom o suficiente para me livrar de um acidente se, por acaso, eu encontrar um pedaço de qualquer coisa na pista, ou se na minha frente, o trânsito parar. Se realmente houver uma freada, é acidente na certa.

Eu realmente não consigo entender esse cara. Se você que está lendo é um desses caras, o que eu penso de ti é:

- Primeiramente, a chance de você entender o que eu estou escrevendo é quase nula. Você é uma anta. Um paramécio, uma ameba cujo cérebro não presta nem pra limpar cocô de cachorro. Você é burro mesmo.

- Você vai causar um acidente, mais cedo ou mais tarde. Saiba que tem pelo menos uma pessoa no mundo que torce e reza todos os dias que nesse acidente estejam você e um poste apenas. Se tiver uma namorada que goste de você bastante, é bom que ela morra também, já que é outra acéfala deslumbrada por motores. E eu torço para que você estique as canelas antes de ter filhos. Assim vc não espalha seus genes defeituosos pelo mundo afora.

- Você dirige assim porque é um sujeito desinteressante, chato e muito provavelmente com o pau pequeno. Atrapalhando e fudendo com a vida dos outros é a maneira que vc conseguiu de chamar a atenção, já que se depender do seu papo, da sua inteligência, não conseguirá manter o interesse nem se pagar alguém para isso.

- Se você fosse homem mesmo (é bom que se reconheça, quase não existem mulheres dirigindo assim), levaria seu carrinho para correr num autódromo. Pelo menos lá existem sujeitos corajosos e esportistas o suficiente para colocar a própria vida em risco correndo DE VERDADE. Se um deles sofre um acidente e vai dessa pra melhor, a família já sabia, ninguém fica muito chateado. Na auto-estrada, onde se sente Rei, geralmente você provoca o acidente e sai ileso. Muitas vezes as famílias que morrem são atingidas por idiotas iguais a você.

Pra terminar, um conselho. Quando você for pego no meio de um acidente, não chame seu papai às 3 da manhã pra te tirar da cana, nem peça prisão especial porque está há 3 anos no primeiro período de administração. Aí é sua hora de mostrar que é um macho. Entre em cana junto com os bad-boys de verdade, e de preferência, ao entrar na cela chame todos pra porrada. Porque se você é macho brincar de Need for Speed na autopista, dar porrada em 10 bandidos de uma vez TEM que ser um passeio para você.

Como vocês já devem suspeitar, sou dono de uma produtora cinematográfica na Turquia, especializada em fazer versões toscas de filmes americanos.
Mas falando sério, acho que esse é o melhor. A bazuca se recarrega toda hora, e eu só vi ele colocando UM foguete nela. De onde ele tira os outros?

Ando meio espantado com a vocação que o brasileiro tem para ser chulé. Toda a grita em torno do caso dos cartões corporativo me espanta, não pela corrupção em si, que já é quase condição sine qua nom pra ser político nesse país. Mas é a natureza de alguns gastos que salta aos olhos.

Siga meu raciocínio, alguém como a Sra. Matilde Ribeiro, deve ter trabalhado a vida inteira (seja lá onde) deve ter feito esforço pra conhecer as pessoas certas, se enfiar em convenção de partido, vestir camiseta vermelha, button de estrelinha, comício, piquete e depois de tudo, é alçada ao posto de Ministra da República. E aí, resolve dar uma de deslumbrada em churrascaria? Usar o cargo pra poder pagar de gatinha num carango de luxo?

Isso é que eu chamo de "chulesismo". São atitudes que revelam a quão curto pode ser o horizonte dessas pessoas. Não estou querendo enaltecer os grandes corruptos, longe de mim, mas tem político que rouba licitação de viaduto, de milhões de dólares. Mas sujar uma carreira por causa de tapioca? Dar um jeitinho de levar a parentada pra Buenos Aires a custa do contribuinte? Chulesismo.

E na verdade, são essas porcarias que, somadas, viram 100 milhões de reais. E são também elas que propagam o vírus da corrupção dentro de cada fresta da administração pública. É a nota do taxi com dez reais a mais pra comer um lanche. É o hábito de chegar na sexta feira no hotel pro compromisso que é só na segunda, pra aproveitar a praia. É o "deixa, deixa que eu tô com o cartão, o governo paga, ninguém nem percebe". Chulé.

Enquanto a matilha se refastela com carne lá no topo da montanha, a manada dos chulesistas acha que se diverte aqui embaixo com as esmolas largadas nas frestas do poder. E nem param pra pensar que, como gado que são, serão os primeiros a serem atirados às piranhas, quando um dos lobos quiser tirar uma foto onde tenha cara de honesto.


Não sei porque. Quando eu leio uma noticias dessa:



Me vem na cabeça uma imagem assim:



Tchau, São Paulo

Em 1989 eu chegava em São Paulo.
Eu era diferente, a cidade era diferente. São Paulo era diferente de Barra Mansa, de onde eu vinha, e isso era tudo que eu queria saber. Eu e São Paulo nos demos muito bem a princípio.

Eu tinha 18, e o início dos anos 90 eram generosos com gente da minha idade.
Eu fui a todos os shoppings, conheci péssimas lambaterias e ótimos inferninhos. Frequentei Aeroantas, Rose Bombons, Espaços Retrôs e UP and Downs. Eu fui eletrônico e grunge, trabalhei nos Jardins e em Palhereiros. Fui vendedor e professor. Comecei faculdade 3 vezes. Terminei uma. A cidade estava aberta, e minhas chaves serviam em todas as fechaduras.

Não sei dizer quem mudou primeiro, eu ou a cidade. Mas o fato é foram ambos.

Da minha parte, e como sempre acontece quando se envelhece, as pequenas coisas começaram a incomodar. E o nascimento do meu filho não ajudou muito. A faculdade acabou, as baladas diminuíram, o cabelo caiu quase todo, e de repente eu não tinha mais paciência para aguentar o engarrafamento para pegar um cinema.

Do outro lado, São Paulo não andava colaborando. Uma cidade que não dorme nunca só pode estar cansada. Nós vamos nos acostumando com tudo, mas por mais que me digam, não é razoável perder três horas do seu dia preso num carro. Ou ser obrigado a pagar para que uma pessoa não risque seu carro para que você possa passear de bicicleta com seu filho. Chegar duas horas antes para poder ver um filme. Ter medo.

Por conta disso, eu e a família em 2007 resolvemos deixar São Paulo. E no começo de 2008, finalmente a deixamos. Resolvemos abrir mão das livrarias, cinemas, bares e shoppings em troca de um lugar onde meu filho pode andar de bicicleta na casa, criar laços duradouros, ter um cachorro e, um dia, sentir-se grande demais para aquela pequena cidade, e resolver experimentar uma capital.

Só posso torcer para que, quando esse tempo chegar, São Paulo já tenha encontrado o tempo, e amor que ela precisa para poder descansar um pouco, pelo bem de todos.