Não me levem a mal. Eu gosto de Gonzaguinha.
O que eu não aguento é que em cada dinâmica de grupo, em cada maldito fim-de-festa, em cada momento edificante que a gente passe nesse país, tem sempre um pela-saco sem repertório que puxa um: "...eu vivo com a pureza da resposta das crianças... é bonita..." com os braços levantados pra cima como se sentisse o próprio Cristo. Sério, DECLAMAM Gonzaguinha como se fosse Shakespeare.

E a galera segue.

Não aguento mais. Vamos deixar combinado, a música é boa, mas deu. Tem um a pá de música edificante boa por aí, deixa essa quieta. Já foi o tempo dela. Vai ouvir os discos do Gonzaguinha, tem um monte de música boa.

Mas percebo que isso é apenas o início do problema. Nós estamos infectados pelo lugar comum. Sempre optamos pelo conhecimento chulé. Por isso agora nasce essa campanha, por um mundo livre dos lugares-comuns. Participe!




Começou há alguns anos, não sei precisar extamente a data.

Nem sei quando me dei conta. Todo bar que eu ia. A cada Undenberg, Cinzano ou Catuaba Selvagem que eu punha para dentro, mais evidente ficava.

A figura escura, sentada à penumbra, o copo parado à frente o cigarro entre os dedos, quase como se fosse um altar. A rosto vincado, anguloso, quase sizudo.

Eu mudava de boteco, mudava de trago, mas fosse na Belco ou na Xiboquinha, ele estava lá. Será que me julgava?

Perguntei a amigos. Vocês vêem aquilo que vejo? Ele também aparece para vocês? Ninguém via nada.

O desespero tomou conta de mim quando o vi em um casamento. Como poderia ter entrado? Seria amigo de algum amigo? Seria da família?

Pensei em tirar satisfações. Mas ele sempre estava na mesa do fundo. Quando eu me dirigia a ele, já estava lá atrás, mais atrás, mais no fundo. E dessa forma eu o persegui até o Jabaquara. E de lá eu não passo.

Com o tempo ficou evidente. Não havia o que fazer. Mas tudo fez sentido, não sei como não havia percebido antes.

Eu estava sendo assombrado pelo fantasma de Nelson Gonçalves.

Hoje não me abalo. Descobri que se levantar o copo de Dreher num brinde, ele levanta o copo dele lá no fundo, dá um sorriso e não me enche o saco.