A Fantástica Floresta de Teixos

Sei que é errado despejar o ódio em alguém que está lá na ponta de baixo dos problemas, mas olha a cara desse sujeito, todo satisfeito por aniquilar um bicho raríssimo.
Talvez seja aquela sensação meio Tyler Durden de: "Hoje eu matei uma coisa bela".
Eu diria pra ele: Aproveita enquanto é tempo, amigão. Já já não vai sobrar nada com um ou dois chifres pra você pescar aí. Aliás, nem o gelo sobre o qual você está em pé.

Em 2002, a estréia de Homem-Aranha provou que era possível realizar uma proeza que já andava meio apagada na cabeça de milhares de leitores de HQ do mundo. De que era possível realizar um filme baseado num personagem de história em quadrinhos realmente bom.
Bom , antes dele, X-Men já apontava o caminho. eu só não coloco os dois filmes no mesmo saco porque X-Men fez muitas concessões (visuais na maior parte) para agradar ao grande público. Aranha não. Sam Raimi provou que era o nerd certo para o serviço e pos o teioso inteiro na tela, com seu uniforme e temáticas pouquíssimo modificados.
Não é exagero nenhum dizer que Homem-Aranha mudou completamente o cenário cinematográfico de blockbusters. Acho que desde então, não se passou uma única temporada sem um filme saído das páginas de algum quadrinho.
Se o primeiro filme abriu o caminho, Homem-Aranha 2 asfaltou definitivamente a estrada. Era melhor, maior e mais bem escrito que o primeiro, uma verdadeira pérola em se tratando de adaptações.
Por isso, tanta repercussão em cima do capítulo final da trilogia (alguém acreditou nisso).
Homem-Aranha 3 chegou bombando nas bilheterias do mundo afora, apoiado num orçamento Babilônico (que diga-se de passagem, está todo na tela). Mas desde 2002, muita água passou por debaixo da ponte, e nós ficamos mais exigentes, e já nos sentimos que podemos críticar deslizes que antes, passariam em branco.
Homem-Aranha 3 está longe de ser um filme ruim. Mas padece de um defeito comum a quem fica mais velho. Gorduras localizadas. Na minha opinião, a coisa mais louvável dos dois primeiros filmes é que, apesar do orçamento sempre milionário, eram obras enxutas. Sem excesso de personagens, sem vilões demais, sem coadjuvantes sobrando (alguém se lembra de Otis e da Srta Tachmaker?). E nisso, o novo capítulo falha miseravelmente.
Com um roteiro meio desleixado (cuidado com os Spoilers daqui pra frente) o que não falta são situações beco-sem-saída, que contam com sua boa vontade para engolir os milhares de coincidências que vão se suceder, sem explicações.
Eu até que aceitaria as coincidências. Mas as gorduras...
Pra começar, Gwen Stacy é totalmente dispensável. Se fosse substituída por 3 desconhecidas, poderia cumprir o mesmo papel, sem ter o peso de um personagem. O próprio Venom é um adendo bobo. Poderiam tê-lo deixado pro Aranha 4. O Homem-Areia é o melhor personagem do filme, mas não precisava sair voando toda hora, nem ficar do tamanho do Godzilla. Exagero.
Além disso, esse filme tem a única cena realmente RUIM do filme. O showzinho de dança de Peter Parker no bar da Mary Jane é constrangedor.
Outra coisa que irrita é a frequência que o herói e Venom têm que arrancar o capuz. Entendo que algumas cenas exigem um nível de dramaticidade que a máscara dificulta. Mas do jeito que ficaram nesse filme, eu começo a pensar que, se Sam Raimi dirigisse um capítulo de Star Wars, Dath Vader ficaria pondo e tirando o elmo de 15 em 15 minutos. Desnecessário.
À medida que o tempo passa após a sessão, o filme vai ficando mais fraco. Mas apesar disso, é divertido e cumpre a missão de ser um gibi mediano do Aranha.
Espero que as críticas, que têm sido unânimes, forcem os produtores a olhar para frente, o que no caso significa dar um passo atrás, na direção de Homem-Aranha 2.