Tchau, São Paulo

Em 1989 eu chegava em São Paulo.
Eu era diferente, a cidade era diferente. São Paulo era diferente de Barra Mansa, de onde eu vinha, e isso era tudo que eu queria saber. Eu e São Paulo nos demos muito bem a princípio.

Eu tinha 18, e o início dos anos 90 eram generosos com gente da minha idade.
Eu fui a todos os shoppings, conheci péssimas lambaterias e ótimos inferninhos. Frequentei Aeroantas, Rose Bombons, Espaços Retrôs e UP and Downs. Eu fui eletrônico e grunge, trabalhei nos Jardins e em Palhereiros. Fui vendedor e professor. Comecei faculdade 3 vezes. Terminei uma. A cidade estava aberta, e minhas chaves serviam em todas as fechaduras.

Não sei dizer quem mudou primeiro, eu ou a cidade. Mas o fato é foram ambos.

Da minha parte, e como sempre acontece quando se envelhece, as pequenas coisas começaram a incomodar. E o nascimento do meu filho não ajudou muito. A faculdade acabou, as baladas diminuíram, o cabelo caiu quase todo, e de repente eu não tinha mais paciência para aguentar o engarrafamento para pegar um cinema.

Do outro lado, São Paulo não andava colaborando. Uma cidade que não dorme nunca só pode estar cansada. Nós vamos nos acostumando com tudo, mas por mais que me digam, não é razoável perder três horas do seu dia preso num carro. Ou ser obrigado a pagar para que uma pessoa não risque seu carro para que você possa passear de bicicleta com seu filho. Chegar duas horas antes para poder ver um filme. Ter medo.

Por conta disso, eu e a família em 2007 resolvemos deixar São Paulo. E no começo de 2008, finalmente a deixamos. Resolvemos abrir mão das livrarias, cinemas, bares e shoppings em troca de um lugar onde meu filho pode andar de bicicleta na casa, criar laços duradouros, ter um cachorro e, um dia, sentir-se grande demais para aquela pequena cidade, e resolver experimentar uma capital.

Só posso torcer para que, quando esse tempo chegar, São Paulo já tenha encontrado o tempo, e amor que ela precisa para poder descansar um pouco, pelo bem de todos.