Conforme prometido no último post, passo a publicar o que escrevi para o finado paudabarraca.com.br. Esse foi escrito por volta de 2001. Então não venham me dizer que parece com o Cilada, porque nessa época o Bruno Mazzeo ainda estava no playground, certo?


Uma das coisas imprescindíveis na vida é aprender a se comportar numa mesa. Assim, você poderá esquecer tudo que aprendeu, para saber como se portar numa Churrascaria.
À princípio, parece até fácil. Basta sentar o rabo na cadeira e se empanturrar até não agüentar mais, e ir embora rolando para casa. Engana-se quem pensa assim. Comer em uma Churrascaria requer um nível até avançado de conhecimentos, para que não se coma gato por boi.
Felizmente, o paudabarraca está aqui para ajudá-lo a tirar todas aquelas dúvidas que você nunca teve cara-de-pau de perguntar a ninguém.

1 - Escolhendo uma Churrascaria
Preste bem atenção. Em matéria de Churrascaria, não se deixe guiar pelo nome. Um nome pomposo, com sotaque francês pode ser uma bosta, enquanto "Porcão" é uma maravilha. Existem outros modos de se ter uma pista da qualidade da Churrascaria antes de entrar. O principal deles é o mais óbvio: o preço.
Simples e básico: uma Churrascaria de R$ 35,00 por pessoa é excelente. Uma de R$ 8,90, geralmente, não. Por isso, se seu bolso anda igual ao meu, é melhor ficar na faixa de R$ 12,00 ou R$ 13,00.
Outra forma fácil de identificar quem entende da arte do churrasco é dar uma olhada nos garçons. Todos vão estar devidamente fantasiados de gaúcho. A diferença é que, nas piores, aquele japonês e aquele cearense não enganam ninguém.

2- Entrando na Churrascaria.
Seja duro. Seco. Tudo ali é uma arapuca, pronta para você gastar o máximo, e comer o mínimo.
Se for um final de semana, é muito provável que apareça do nada um garçom com uma infinidade de licorezinhos ditos "para abrir o apetite". Um desavisado poderá achar que aquilo está incluso no preço do rodízio: ledo engano. Tome duas daquelas malditas canequinhas (são sempre bregas:azuis, rosas, com o nome do estabelecimento gravado na frente) e você já terá dobrado o preço do seu churrasco.
Conheço pobres inocentes que chegaram a tomar três ou quatro, e ainda pediram para encher só até a metade, enquanto o garçom vestido de gaúcho ria de uma orelha a outra.
É chegada a hora de conhecer a mesa de frios. Bom, mesa é modo de expressão, porque o a coisa mais parece um chafariz de comida. Ali, tem de tudo. As mulheres adoram.
Pesquise bem o que pegar. Não se empolgue, senão em dois minutos você estará comendo lazanha, e esse não é o seu objetivo nesta noite.
Ao sentar, tenha certeza. Mesmo que você estenda um outdoor vermelho, para a carne não passar ainda, o maldito gaúcho da lingüiça vai querer empurrá-la (no bom sentido) em você. Recuse. Lingüiça, você come em qualquer churrasco do seu sogro.

3- Finalmente, as carnes
Diretiva número 1: não tente conversar.
Você está com a boca cheia, com fiapo de carne no dente, e os gaúchos não vão deixar. É um tal de "chuleta?", "picanha, senhor?", "maminha?". Esqueça. Concentre-se nas carnes. Aceite somente aquilo que você realmente gosta. Não tenha pressa, a churrascaria é grande, tem espaço para todo mundo. Se você for do tipo extrovertido, faça um alongamento de quinze em quinze minutos. Os gerentes não gostam, mas diabos, você tem seus direitos.
Quando voltar a passar só lingüiça, é porque você já está a muito tempo comendo. Está na hora de fazer pedidos.
Chame o gaúcho. Explique o que você quer. Fale da carne como quem fala da Luma de Oliveira. Seduza o cara. Ponha uma nota no bolso dele. Você vai ver. O sujeito vai sair lá do fundo, com aquela picanha sangrando, atravessar o salão inteiro ignorando o povo, e vai direto para sua mesa, oferecer o primeiro pedaço.
É imperativo saber a hora de parar. Preste atenção nos pequenos detalhes. Quando a mesa começar a se afastar sozinha, é um sinal. Veja se não é sua barriga que a está empurrando. Se for apenas um poltergeist, ou um terremoto, continue comendo.


4- Indo embora.
Considerando a orgia alimentar que você acabou de participar, é bom não facilitar as coisas. A tentação de cair no sono ali mesmo será quase irresistível.
Faça alguma coisa à respeito, discretamente. Na saída, finja tropeçar e caia no aquário,ou coisa parecida. Ninguém vai reparar, todos vão estar ocupados, entupindo-se de carne.

1 comments:

Gabi said...

Me lembro dessa....e continua atual heim? Muito bom esse texto, continue com outros, bjs, Gabi