O blog estará meio... adormecido nas próximas duas semanas. Se der, dou sinal de vida.
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Lã Ráuse? Tem não sinhô...

Para um fã da história em quadrinhos há pelo menos 22 anos, assistir Watchmen é uma experiência quase onanista. Nem tudo está lá (e eu nem esperava isso, a série é muito grande), mas tudo que está, ficou perfeito.


Os cenários, figurinos, paleta de cores, os atores perfeitos. Muitos reclamaram que o filme era muito longo, e eu ali, torcendo para ele não acabar.

Watchmen, juntamente com Cavaleiro das Trevas (a HQ, não o filme) praticamente definiram o tipo de nerd que sou hoje. Até então eu comprava minhas revistas, e tinha bastante Pato Donald misturado com Homem-Aranha. Dali em diante, eu tinha estabelecido um novo patamar. Posso dizer com certeza, que todos os outros quadrinhos que li, daquele momento em diante, foram comparados com Watchmen ou Cavaleiro. Acho que nem é muito justo com outros quadrinhos.

De maneira que, apesar de já ter visto ótimas adaptações de quadrinhos, como Sin City ou 300, e ótimos filmes baseados em personagens em quadrinhos, como Batman ou Homem de Ferro, nenhum outro filme me causou essa expectativa. Que aliás, foi plenamente cumprida.
O problema é que, dentro de um cinema lotado, não consegui evitar ficar imaginando o que aquele povo todo estava achando daquele filme. Pessoas que nunca leram um quadrinho na vida. Que nem fazem idéia do que é Dr. Manhattan. Não é como o Superman. Qualquer um conhece o Superman.

À medida que o filme avançava, essa questão ficou mais grave. Aquele povo sacou que o filme se passa em 1985? Notaram que Nixon ainda é presidente? Aquela molecada sabe quem foi Nixon? Aqueles sujeitos usando colant, não é estranho? Será que estão pensando: "porque tanta violência"? Eu pensava: "essa geração nem teve medo de bomba!"

Confesso que foi após a primeira hora que eu relaxei da minha tempestade mental e me deixei absorver completamente pelo filme. Com aproximadamente 1:40 de projeção, umas 5 pessoas levantaram e foram embora da sala. Depois, mais umas 3.
Lembrei da crítica da Isabela Boscov.

E então, caiu a ficha.

Aquele filme era para mim. Dane-se quem não quisesse ver. E aqui começa de verdade minha crítica. Cuidado, pode ter algum spoiler.

Parece que Zack Snyder, depois de ter provado para a indústria que conseguia encher as salas com 300 e Madrugada dos Mortos, resolveu bancar Watchmen sem fazer concessões. Alguns fãs mais chiitas podem reclamar que ele deixou partes de fora. Mas não que amenizou qualquer coisa que foi mostrada ali. Das partes pudendas do Dr. Manhattan aos cães mortos do Rorschach, ele não tenta tornar a vida do expectador mais fácil em nenhum momento.

Watchmen é uma adaptação dificil porque no quadrinho de Alan Moore ele não te conduz a gostar de nenhum personagem. Não tem protagonista, nem antagonista. Todos tem falhas, todos tem qualidades, não há respostas. Você adora um personagem, odeia outros, dali a pouco a coisa se inverte. O filme segue isso à perfeição.

Minha grande preocupação era com o final, que eu já sabia de antemão, tinha sido alterado. Mas a solução do roteiro é extremamente inteligente, e economiza muitos minutos ao não precisar se alongar com a história da lula.

Watchmen não é para qualquer um. Nem o quadrinho, nem o filme. Se você não foi ao cinema ainda, esteja avisado: há grande chance de não gostar. Essa é uma obra que não pede "me adore". Se você achar Watchmen "mais ou menos" alguma coisa você não entendeu. É pra amar, ou odiar.

Das várias besteiras que as igrejas (em especial a católica) nos empurram goela abaixo, a mais nociva, na minha opinião, é o tal "feitos a sua imagem e semelhança".


Essa frase, implica que Deus é um sujeito igual a nós, mas com poderes. E num arroubo de solidão talvez, decidiu criar o mundo, e fazer do ser humano uma cópia de si próprio (só que sem os poderes).

Aí é que está o problema. Se somos iguais a Deus, então somos seus filhos prediletos. Isso nos dá um monte de direitos sobre todo o resto, não?

Significa que podemos desfrutar de todo o resto. Foi um presente de papai. Cada árvore, bicho, bactéria, oceano e átomo foi colocado ali para que usemos. Pode tacar fogo, jogar lixo, matar os bichos, porque a Terra é o playground do homem.

Um caranguejo se parece com Deus? Não! Deus é um homem, branco, cabelos longos e barba, com voz bem modulada. Que depois de criar a Terra passa seus dias ouvindo súplicas de seres humanos que, apesar de terem ganhado um presentão desses, nunca estão satisfeitos.

É de uma falta de humildade tão grande, que deve envergonhar o criador.

Se existe um Deus (e não estou dizendo que não se deve crer Nele), a primeira coisa que devemos aceitar é que ele não é nem remotamente parecido conosco. Que nossa cabeça limitada não será capaz nem mesmo de começar a entender os motivos desse ser. Que esse Deus também é, e em mesma proporção, o Deus dos caranguejos, tubarões e caramujos. E se ele estiver olhando mesmo pra cá, não deve estar satisfeito.

Assim, ao invés de ajoelhar a cada noite para pedir qualquer coisa em oração, quem sabe a gente se preocupe em mostrar que somos bons filhos, e que não é legal desagradar tanto uma divindade tão incompreensível. Quem sabe os humanos possam mostrar que são merecedores do espaço que ocupam nesse planeta. Quem sabe cheguemos a conclusão de que somos todos átomos de um ser muito maior.

E de tão grande que ele é, pouca diferença faz se você é um homem, uma criança ou uma ameba, contanto que você não faça adoecer o corpo maior de que faz parte.