- (chegando) Opa, perdi alguma coisa?
Em épocas como as que estamos vivendo, eu agradeço por meu filho ser ainda pequeno o bastante pra que eu possa protegê-lo de determinadas coisas que andam acontecendo. Se ele tivesse uns 5 anos a mais, eu seria obrigado a responder perguntas às quais eu não faço idéia da resposta.
É bem dificil tentar explicar o que é essa calhordice que tomou conta de nós. O que nos espanta? O que é grave? O que causa indignação?
O que é preciso acontecer para que as pessoas acordem?
Sendo bem prático. Vamos pegar última crise no senado como exemplo. Todo mundo tem certeza que o bigodudo mentiu, achacou, ameaçou, cercou-se de todos os piores elementos pra defendê-lo, e o que fez o Presidente da Republica? Juntou-se a eles. E o que aconteceu?
Rigorosamente nada.
Se meu filho me perguntasse:"Pai, roubar é errado?", o que eu deveria responder?
A candidata a presidir o país no próximo mandato, mente deslavadamente, é mal educada, tem uma ficha pra lá de estranha. E é a única escolha do partido.
"Pai, mentir é errado?"
O Governo e vários juízes do STF estão fazendo das tripas coração pra livrar da cadeia um assassino confesso. Dobram e desdobram a lei para tentar fazer um origami que nos faça sentir que o cara é um matador bacana, um assassino com classe.
"E aí Pai, matar é errado?"
Me digam, o que eu respondo, se ele me perguntar? Que depende? Que alguns podem? Que é melhor não pensar nisso, ficar de lado? Qual a resposta mais adequada, me ajudem?
E como não compreender a confusão pela qual passa um jovem hoje em dia. Vale a pena ser honesto? Melhor gastar dinheiro em livro, ou ficando bem gostosa (ou fortão), o que te abre mais portas hoje em dia?
Por enquanto, ainda consigo preservar a inocência do meu filho. Não se trata de aliená-lo. É um tempo que eu ainda tenho pra ver se os valores que eu passo grudem na mente dele, antes que o mundo venha, e estrague tudo. Uma esperança para quem sabe, quando ele me fizer essas perguntas acima, eu possa dar as respostas que eu sei que estão certas, sem parecer que estou mentindo pra ele.
I don't need no one to tell me about heavenHeaven- Ed Kowalczyk
I look at my daughter, and I believe.
I don't need no proof when it comes to God and truth
I can see the sunset and I perceive
Se é pra me rotularem, melhor dar o nome mais correto: sou cético. Não ateu.
Ateu não acredita, e ponto. Eu acredito. Mas duvido. Parece inconsistente? Não é.
A dúvida tem uma imagem muito negativa em nossa sociedade. Queremos pessoas que acreditem. Que creiam, cegamente. Que encontrem. Eu podia fingir, mas não sou assim.
É preciso interpretar direito. Minha posição não é o: "Duvido!", ríspido e intolerante, que desafia todos a provarem seus argumentos. Isso é soberba, não dúvida. Na minha visão, a dúvida é uma prova de humildade. É reconhecer que sou pequeno e falho, e não tenho a pretensão de achar que sei quem é Deus. Não entendo. Busco.
Você já encontrou seu Deus? Ótimo. Se sua crença preenche o que falta em sua vida, acho mesmo que vc deve louvá-lo, acalentá-lo, como parte de você. Mas por favor, não tente vender suas crenças para mim. Você se sente bem, porque chegou, porque encontrou. Mas eu valorizo o caminho. Eu estou andando, e não tenho muito interesse na linha de chegada. A viagem tem sido boa. Respeite minha jornada.
Eu andei por algumas religiões. Ouvi gente mais sábia e menos sábia. Acolhi coisas de cada uma delas. Já tive minha fé posta a prova algumas vezes na minha vida. Mas sempre me recusei a ser "mais ou menos católico" ou "quase espírita". Se não for pra abraçar uma religião de corpo e alma, prefiro nem começar. E acho que essa religião completa não existe, então prefiro continuar meu caminho.
Eu vou dar ouvidos a quem quer que seja nessa estrada. Vou levar em conta cada palavra que chegar a mim. Mas por favor, não me teste me convencer que você está num grau mais elevado que eu em seu crescimento espiritual, porque você simplesmente não sabe disso. Ninguém sabe.
Eu não preciso de igreja pra fazer minhas orações. O mundo inteiro é um templo. Não preciso de uma representação visual de um Deus. Não preciso dar um nome a ele. Ele existe, pra mim basta.
Quando meus dias por aqui acabarem, talvez me encontre com Ele, e Ele me pergunte:"Você demorou esse tempo todo pra me encontrar?". E eu vou poder responder, com toda felicidade: 'Ah Senhor, mas como eu procurei..."
Sarney não conhecia Rodrigo (o Cruz, não eu). Não é dono do Maranhão. Não indicou parentes. Não sabia o que era ato secreto. A empreiteira não lhe comprou um apartamento. Não tem influência na fundação que leva seu nome. Pallocci não quebrou o sigilo do caseiro. Não esteve naquela casa. O funcionários da receita saíram normalmente, sem fato relevante. É normal o sistema de segurança do Planalto não lembrar de nada. Mercadante ficou porque Lula lhe escreveu uma carta linda, tocante. Não houve acordão. Dilma não viu Lina. Nunca tinha prestado atenção em seu próprio curriculo. O dono do castelo não fez nada de errado. Paulo Duque analisou em profundidade, caso a caso, e inocentou Sarney porque não havia evidências.
Esse é o Brasil de hoje.
E você, que dá ao Lula seus mais de 70% de aprovação, acredita em tudo acima? Mesmo?
Parabéns.
Publicado originalmente em 2001, no site www.paudabarraca.com.br
Hoje eu venho aqui para falar de um assunto que aflige a todos. Apesar da aparente futilidade à primeira vista, todos sofrem com este problema. Aquele que nunca sentiu os cabelos do braço se arrepiarem ao olhar para uma barata, que taxe de fútil este texto. E dizendo isso, acabei por adiantar qual é na verdade o nosso assunto: a Barata.
Barata deveria se escrever assim, com letra maiúscula. Ela já adquiriu esse status. A meu ver, ela não poderia nem mesmo ser incluída na classe dos insetos. Primeiro que os insetos andaram reclamando. Depois, como juntar, na mesma classe, uma singela borboleta, e uma repugnante cascuda? A barata é única. Suas particularidades mostram isso. É uma antítese viva. Veja os fatos. Ela morre com inseticida, mas não com uma bomba atômica. Existem caras muito machos, que se embrenham na selva , abrem trincheiras, socam jacarés, e o diabo; e muitos deles farão uma cara de nojo para pisar em uma barata.Aliás, as mulheres que me perdoem, mas quem sofre mais com esse "inseto"(?) são os homens. Eles têm a obrigação de não ter nojo. Quando, passeando por uma rua qualquer, um casal encontra a danada , e a mulher faz o já habitual escândalo: - Ai,ai,ai uma barata!!!!!!!Socorro!!!!
Nesse momento, baixa um Exu, ou qualquer coisa parecida e o homem põe-se a correr atrás do bicho até pisá-lo e ouvir, disfarçando o nojo, o característico "CREC!!", quando esmaga a coisa. Mas tenho certeza que a grande maioria preferiria reagir do mesmo modo que a Penélope Charmosa.
A barata é um bicho apolítico. Ela também não tem preconceitos.Vai aparecer em qualquer casa, seja ela limpa ou suja, rica ou pobre do PT ou do PMDB. Tanto faz.
Um dia desses, enquanto eu fazia meu tradicional passeio noturno pelos canais de televisão me bateu uma vontade - também tradicional - de tomar um café. Logicamente, fui até a cozinha. Note que quando se anda o dia inteiro pra lá e pra cá, a coisa que mais se aprecia ao se chegar em casa é arrancar os sapatos e andar descalço, sentindo o carpete macio sob seus pés. Baratas não respeitam esse tipo de prazer. Foi só eu entrar na cozinha para divisar do outro lado do cômodo próxima à geladeira, o monstro. Olhamos um para o outro - na verdade eu nem sei se aquele bicho tem ou não olhos, mas estou certo de que ela me olhou - ficamos assim durante uma hora, ou um minuto - o tempo passa de maneira diferente quando você olha para uma barata, isso é física pura - e eu pensava como seria bom estar com uma bota sete léguas cano longo naquele momento. Por fim, ela correu pra baixo da geladeira, e eu fiquei sem meu café.
Adqurimos então uma relação de respeito e ódio mútuos - eu insistia em buscar café descalço, e ela insistia em ficar esperando que eu fosse buscar café para aparecer - até que um dia, cansado daquela situação ridícula , resolvi calçar sapatos para entrar na cozinha. Em duas ou três incursões clandestinas, matei-a. E descobri um segredo estarrecedor. Não era apenas uma barata, e sim duas. Por isso ela se movia tão rápido.
Eu tinha então, um novo - e maior que o anterior - problema. Dessa vez quis resolvê-lo o mais rápido possível.Voltei ao campo de guerra no dia seguinte.Achei-a no batente da porta. Realmente era bom cuidar daquilo logo, antes que minha arquiinimiga resolvesse explorar lugares novos, como meu quarto, por exemplo. Me preparei, repirando fundo fundo e buscando apoio nos espíritos ao redor, fossem eles quais fossem. Me virei e desferi um golpe marcial que deve ter feito Bruce Lee revirar-se no túmulo. E foi então que nojenta também me atacou com sua arma derradeira. A barata não é apenas repugnante, mas também deve ter sorte, pois quando a atingi, sentindo o horrível amassar sobre minhas botas ela conseguiu espirrar aquela meleca - não preciso explicar, vocês sabem - exatamente em minha mão direita ( graças à Deus, sou canhoto) . Meu desespero não podia ser maior. Corri até a pia, abri a torneira, o mínimo possível de forma que a água saísse quase fervendo e despejei meio vidro de sabão. Naquele momento, a vontade que eu tinha não era de lavar a mão, mas sim amputá-la. Se eu fosse uma lagartixa, teria feito isso sem pestanejar. Enquanto isso a minha agressora se contorcia no chão como qualquer barata faria. Esta era a senha para atinji-la novamente, pois, provavelmante, eu não a acharia de manhã. Desta vez eu usei uma vassoura e fiquei o mais longe possível.Arghh!!
É necessário que se faça alguma coisa com esse bichos.Elas sobreviveram aos dinossauros - talvez tenham sido a causa da extinção deles, quem pode saber - irão sobreviver a nós também?Vamos exterminá-las, elas não fazem falta a nenhum equilíbrio ecológico. Provavelmente, nem foi Deus quem as criou. Até mesmo os sapos e morcegos ficarão agradecidos.
Uma Barata boa é uma Barata morta!
George Orwell previu, em "1984", que nossa sociedade seria observada 24 horas por dia por câmeras, o tal "big brother".
Na sexta feira, dia 19 de junho, por volta da meia noite, eu estava terminando de ler "A Estrada" de Cormack McCarthy, ganhador do Pulitzer de 2007. Aos prantos. Sério.
Bom, geralmente não faço isso mas esse como o comentário do Vinicius está bem fundamentado, vou abrir exceção aqui, pois ficou muito grande pra área de comments Vou parte a parte, Vinicius, interrompendo-o enquanto comento. A arte da dialética é uma coisa interessante. Você acaba de usar a lógica, a razão, para convencer as pessoas.
E minha opinião vai ser completamente diferente da maioria... fazer o que?
Eu acho que não precisa mesmo de diploma. Não precisa. Grandes jornalistas que estão por aí não tem diploma.
E quer saber mais. Também não precisa de diploma para ser designer. E antes que alguém pergunte, sim, sou formado em Design Gráfico pela FAAP, há mais de 12 anos.
Encarem os fatos, Andy Warhol não era designer, mas se ele quisesse fazer uma embalagem pro seu produto, vc recusaria? O que interessa, tanto em Jornalismo quanto em Design Gráfico, é o talento. E ponto.
Mas de modo algum acho que isso desmerece o peso da faculdade... se eu fosse contratar um designer hoje, o diploma teria sim, um peso enorme. Com certeza, o mercado dá valor a quem é formado. O cara que não é formado tem que se provar o triplo. Só que profissionalismo não se aprende em faculdade, não se enganem.
Me desculpem, mas o que falta em nossa área é profissionalismo, não diploma. É saber se portar, saber cobrar, saber dar e cumprir prazo, saber se expressar na frente de um cliente, saber se portar numa reunião. Isso diferencia o profissional MUITO MAIS que um canudo, ou mesmo regulamentação.
E uma coisa que designer tem que aprender, na minha opinião, é PARAR de se comparar a médico, advogado, engenheiro e dentista.
ACORDEM, se cair uma bomba amanhã e a humanidade tiver que se recompor, vamos viver sim, muito tempo sem designer, sem jornalista, sem decorador, mas DE MODO ALGUM, sem médico, dentista, engenheiro, cientista.
A faculdade dessas profissões é NECESSÁRIA porque ninguem aprende a fazer uma safena via tutorial na interner. Um médico passa 10 anos estudando e fazendo residência antes de montar um consultório. Designer faz freela no primeiro ano de facu. Se uma ponte cai, tem lá a assinatura do engenheiro que a projetou. Ninguém liga pro designer as 3 da manhã falando que tá com dor no logotipo. Liga pro dentista.
Essas profissões ganham mais porque tem que ganhar. Porque são essenciais.
Façam um exercício de humildade, saber disso não torna nossa profissão menos necessária no mundo de hoje.
Conforme prometido no último post, passo a publicar o que escrevi para o finado paudabarraca.com.br. Esse foi escrito por volta de 2001. Então não venham me dizer que parece com o Cilada, porque nessa época o Bruno Mazzeo ainda estava no playground, certo? Uma das coisas imprescindíveis na vida é aprender a se comportar numa mesa. Assim, você poderá esquecer tudo que aprendeu, para saber como se portar numa Churrascaria. 1 - Escolhendo uma Churrascaria 2- Entrando na Churrascaria. 3- Finalmente, as carnes
À princípio, parece até fácil. Basta sentar o rabo na cadeira e se empanturrar até não agüentar mais, e ir embora rolando para casa. Engana-se quem pensa assim. Comer em uma Churrascaria requer um nível até avançado de conhecimentos, para que não se coma gato por boi.
Felizmente, o paudabarraca está aqui para ajudá-lo a tirar todas aquelas dúvidas que você nunca teve cara-de-pau de perguntar a ninguém.
Preste bem atenção. Em matéria de Churrascaria, não se deixe guiar pelo nome. Um nome pomposo, com sotaque francês pode ser uma bosta, enquanto "Porcão" é uma maravilha. Existem outros modos de se ter uma pista da qualidade da Churrascaria antes de entrar. O principal deles é o mais óbvio: o preço.
Simples e básico: uma Churrascaria de R$ 35,00 por pessoa é excelente. Uma de R$ 8,90, geralmente, não. Por isso, se seu bolso anda igual ao meu, é melhor ficar na faixa de R$ 12,00 ou R$ 13,00.
Outra forma fácil de identificar quem entende da arte do churrasco é dar uma olhada nos garçons. Todos vão estar devidamente fantasiados de gaúcho. A diferença é que, nas piores, aquele japonês e aquele cearense não enganam ninguém.
Seja duro. Seco. Tudo ali é uma arapuca, pronta para você gastar o máximo, e comer o mínimo.
Se for um final de semana, é muito provável que apareça do nada um garçom com uma infinidade de licorezinhos ditos "para abrir o apetite". Um desavisado poderá achar que aquilo está incluso no preço do rodízio: ledo engano. Tome duas daquelas malditas canequinhas (são sempre bregas:azuis, rosas, com o nome do estabelecimento gravado na frente) e você já terá dobrado o preço do seu churrasco.
Conheço pobres inocentes que chegaram a tomar três ou quatro, e ainda pediram para encher só até a metade, enquanto o garçom vestido de gaúcho ria de uma orelha a outra.
É chegada a hora de conhecer a mesa de frios. Bom, mesa é modo de expressão, porque o a coisa mais parece um chafariz de comida. Ali, tem de tudo. As mulheres adoram.
Pesquise bem o que pegar. Não se empolgue, senão em dois minutos você estará comendo lazanha, e esse não é o seu objetivo nesta noite.
Ao sentar, tenha certeza. Mesmo que você estenda um outdoor vermelho, para a carne não passar ainda, o maldito gaúcho da lingüiça vai querer empurrá-la (no bom sentido) em você. Recuse. Lingüiça, você come em qualquer churrasco do seu sogro.
Diretiva número 1: não tente conversar.
Você está com a boca cheia, com fiapo de carne no dente, e os gaúchos não vão deixar. É um tal de "chuleta?", "picanha, senhor?", "maminha?". Esqueça. Concentre-se nas carnes. Aceite somente aquilo que você realmente gosta. Não tenha pressa, a churrascaria é grande, tem espaço para todo mundo. Se você for do tipo extrovertido, faça um alongamento de quinze em quinze minutos. Os gerentes não gostam, mas diabos, você tem seus direitos.
Quando voltar a passar só lingüiça, é porque você já está a muito tempo comendo. Está na hora de fazer pedidos.
Chame o gaúcho. Explique o que você quer. Fale da carne como quem fala da Luma de Oliveira. Seduza o cara. Ponha uma nota no bolso dele. Você vai ver. O sujeito vai sair lá do fundo, com aquela picanha sangrando, atravessar o salão inteiro ignorando o povo, e vai direto para sua mesa, oferecer o primeiro pedaço.
É imperativo saber a hora de parar. Preste atenção nos pequenos detalhes. Quando a mesa começar a se afastar sozinha, é um sinal. Veja se não é sua barriga que a está empurrando. Se for apenas um poltergeist, ou um terremoto, continue comendo.
4- Indo embora.
Considerando a orgia alimentar que você acabou de participar, é bom não facilitar as coisas. A tentação de cair no sono ali mesmo será quase irresistível.
Faça alguma coisa à respeito, discretamente. Na saída, finja tropeçar e caia no aquário,ou coisa parecida. Ninguém vai reparar, todos vão estar ocupados, entupindo-se de carne.
Há váááários anos, qdo eu era um dos escritores do saudoso (nem tanto) paudabarraca.com.br, eu montava Guias de Sobrevivências para os tempos modernos. Vou republicá-los aqui, e escrever alguns novos, porque o mundo está cada vez mais complicado, e você, leitor, pode precisar de nossa valorosa ajuda para deslizar calmamente por algumas águas da vida.