Sob o risco de ser taxado de traidor do movimento, vou discutir aspectos da minha profissão e afins que me deixam pensativo de vez em quando. De vez quando porque na maioria das vezes, eu aperto o Ctrl+Alt+Foda-se e mando ver.
Você que me lê, se não é designer ou publicitário é o consumidor. Você não pediu isso, não escolheu sê-lo, mas é. Acostume-se com o fato. Antes de pai, mãe, pessoa ou amigo, você é consumidor. Teoricamente, nós (designers, publicitários e afins) existimos para servi-lo, você tem sempre razão. Acontece que uns caras bem mais espertos que eu, descobriram como vocês pensam, e então nosso trabalho passou a ser o de, sutilmente (às vezes nem tanto) sugerir o que vcs devem comprar.
Isso funciona muito bem quando queremos vender roupa. É só por uma modelo bem gostosa e a mágica está feita. Ou eletrônicos. Um design bonito, e uma função que você nem sabia que existia farão com que o consumidor não saiba como viveu sem aquilo até hoje.
Mas existem entraves criativos que deixam qualquer Olivetto com dor de cabeça:

- O leitor já teve a fantasia de limpar a digníssima bunda com um cachorro? Não? Com uma flor então? Então por que as embalagens de papel higiênico estão cheias de labradores e rosas? Você limpa a bunda do seu cahorro?

- E você leitora, preste atenção na situação: você está num ônibus lotado, quando alguém se levanta na cadeira em frente. Só que no lado da janela, pois já existe um sósia do Brad Pitt sentado no corredor. Lógico que ao passar você se verá obrigada a quase esfregar o traseiro na cara dele. Ou passar de frente, o que, convenhamos é pior. Pra deixar mais aterrador o pesadelo, você está naqueles dias (e não estou me referindo ao dia do pagamento). Claro que depois que vc passar ele vai te olhar com cara de nojo, revirar os olhos, levantar-se com o dedo em riste e gritar: "Shame on you, lady!" Pra todo mundo ouvir. Nunca passou por situação parecida? Não? Puxa, achei que era supernormal, dado a abundância de absorventes com cheiro de Aloe Vera, de uva, morango ou salada mista. Nas propagandas as modelos parecem que vão morrer.

- Tirando fora o Axe, que já estrapolou com sua campanha, todas as marcas de desodorante acham que as mulheres que cheiram um sovaco desodorantado perdem o controle e se transformam em ninfomaníacas onde quer que estejam.

- Propagandas com piruetas. É assim: o publicitário recebe o briefing em que o consumidor usa tal produto e fica muito, muito feliz. Mas como mostrar que alguém que acaba de fumar um cigarro Belmonte fica muito, muito feliz? Ora, sempre existe o recurso das piruetas! É plenamente conhecido que quem está feliz, dá uma pirueta no ar! Quem nunca fez isso? É por isso que, de vez em quando vemos um comercial em que alguém fuma um cigarro/usa um cartão de crédito/ veste uma roupa, e imediatamente, dá uma cambalhota no ar!! Genial!!

- Reparem nas animações de átomos de sabão dando conta da sujeira das suas roupas em propagandas de sabão em pó. Puxa, se aquilo realmente acontece, vou jogar fora meu DVD e comprar um microscópio, é melhor que filme de ação!!

Depois reclamam das propagandas do grupo Imagem, que sempre mostram, hipnóticamente, o produto em ação, uma, duas, vinte e cinco vezes, até que você, sem nem saber o que
aconteceu, repara que está com um auri-shield na mão.

Mas chega de ser enganado, consumidor. Por apenas R$ 150,00 recebe a obra que é referência na técnica de resistência à Publicidade: "Pai Pobre, Neto Miserável" de Rodrigo Teixeira. Mas não é só: na compra desta maravilhosa obra você ainda recebe: um abridor de plastiquinhos de CD, um coador de café solúvel, uma prática escada montável de 1 degrau e um lindo porta retratos feito com baterias de celular velho.

Ligue agora!!

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